Pode ser um título engraçado, mas vai muito além do significado dessa palavra.
Existe uma linha tênue entre a carência e o excesso
e, da mesma forma, entre a comédia e o drama. “Meu Nome é Reginaldson” excede,
com seu texto concebido por Fernando Ceylão, que também é o principal e único
ator do espetáculo - apesar da multiplicidade de personagens, o que demanda
máxima desenvoltura à qual responde com muito talento. Apesar de sua veia
cômica dar uma boa química ao conectar o seu nome ao humorista, a dramaticidade
presente nas vidas representadas no espetáculo é passível de vergonha alheia,
tamanha a força com que Ceylão humaniza os personagens, tornando-os críveis,
enquanto problemáticos, invejosos, medíocres, maléficos e psicopatas. Sob a
direção de Bruce Gomlevsky, a dupla coloca em cheque o estereótipo que muitos
humoristas adoram interpretar.
A partir de determinado ponto, o espetáculo
torna-se melancólico e as gargalhadas projetadas pelo espectador se desviam do
roteiro e atingem, em cheio, a máxima que argumenta que não há nada melhor do
que a miséria alheia para aliviar as suas próprias – o que pode ser
interpretado como uma transformação de momentos de lazer e diversão num
exercício de egoísmo e de falta de solidariedade.
O espetáculo conta com o cenário muito bem
concebido por Pati Faedo - remetendo aos quadrados agrupados de Mondrian, porém
vazados, dando vez a um fundo infinito – que desenha um apartamento que pode
ser interpretado como um cativeiro no qual muitos se colocam ou são colocados
por alguns. O desenho de luz de
Elisa Tandera, o figurino de Ceylão e, até mesmo o som, cuja operação
fica a cargo de Thiago Monteiro, são compatíveis com excelente nível de
produção dedicado ao espetáculo. Com isso, endossa-se o respeito com o qual os
apoiadores foram tratados pela equipe e para com os espectadores que se
interessam pelo tema apresentado, ou com aqueles que, simplesmente, pagam para
ver.
“Meu Nome é Reginaldson” pode ser um título
engraçado, mas vai muito além do significado dessa palavra.
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