Pseudo
sentimento de amizade e companheirismo
Como um prólogo acelerado – uma a uma das nove fichas
criminais de um seleto processo de recrutamento em meio aos piores supervilões
já presos por heróis são passadas à limpo, de forma dinâmica e eficiente,
diante dos olhos dos cinéfilos sedentos pela dinâmica prestes a aflorar o que
há de mais perverso e traiçoeiro no universo daqueles bandidos. A operação
manobrada por uma agência governamental liderada por Amanda Waller (Viola
Davis), com vistas ao extermínio de uma entidade que ameaça a paz, contraria as
vocações e a essência da índole dos bandidos, e os forçam a combaterem o mal em
troca da redução ou perdão total de suas sentenças. A coerção se faz através da
ameaça de morte, por meio remoto, em caso de tentativa de fuga, de ameaça à
segurança da missão ou, até mesmo, em caso de insucesso. Slipknot (Adam Beach),
Arlequina (Margot Robbie), Capitão Bumerangue (Jai Courtney), Crocodilo
(Adewale Akinnuoye-Agbaje), El Diablo (Jay Hernandez), Katana (Karen Fukuhara),
Magia (Cara Delevingne), Pistoleiro (Wil Smith) e Rick Flag (Joel Kinnaman)
protagonizam o “Esquadrão Suicida”, liderado por este último.
Os atualíssimos moldes dos HQs transportados para as telas,
sob a fluídica direção de David Ayer, e a excelente trilha sonora que conta com
a banda dos anos de 1960 - The Animals, Creedence Clearwater e das atuais
Grimes e Panic! At The Disco – são responsáveis pelo tom assumido pelo longa
durante os 130 minutos de projeção – desde as apresentações iniciais até os
créditos finais, deixando em segundo plano os antecedentes criminais dos
protagonistas, mas exaltando as suas capacidades frente à luta contra ameaças
superpoderosas. O pseudo sentimento de amizade e companheirismo que permeia a
história, equivale a uma ressaca na qual a dor de cabeça é uma constante e sem
previsão de melhora, neste, sequer nos próximos filmes que o esquadrão venha a
estrelar – talvez pela coerência impregnada na fala de Will Smith, a partir de
seu “Pistoleiro” – “não esqueça, somos os caras maus”. Margot Robbie explora a
sensualidade psicótica de Arlequina e transforma cada cena em que está presente
em momentos violentamente divertidos. As
participações de The Flash e de Batman são meros mimos para seus fãs, sem
qualquer intercessão com vistas à salvação da humanidade frente à destruição em
progresso. O Coringa, incorporado por Jared Leto, tangencia a uma participação
coadjuvante inserida em uma história e em um corpo aos quais não pertence. Contudo,
ainda restam traços de promessa para a sequência do filme, muito em função das
cenas extras pós créditos.
Pode não parecer, para os desavisados, mas a trilha
percorrida pelo Esquadrão Suicida data do final dos anos 50, o que dá pano para
manga para os aficionados na biografia dos personagens se sentirem no direito
de emitirem suas opiniões sobre o processo criativo dos mesmos, nos moldes das
telas de cinema, resultando em críticas positivas, negativas e apartes como
profundos pesquisadores do universo HQ – o que, de fato, o são. Críticas à
parte, o atual roteiro assinado por Ayer, sem sombra de dúvida, não só delega
ao público o papel de cúmplices ao retirar os vilões da prisão e usá-los no
combate ao crime, mas também o libera, ao sair das salas de projeção, com o
sentimento de total inocência, digna daqueles acometidos pela sociopatia
rotineira e louvada pelos anti heróis do mundo real.