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Cala a Boca e Me Beija: Uma Anatomia do Amor em Ruínas | Crítica | Teatro

Uma crônica feroz da intimidade em colapso

Cala a Boca e Me Beija

Pontos Positivos


Texto de Bia Montez e Fátima Valença – 9.3/10 Frenético como uma discussão às 23h sobre quem devia ter comprado o leite. O texto acerta ao não tentar acertar: ele escorrega, grita, ri alto, implode — e por isso mesmo convence. A pontuação alta vem não pela perfeição, mas pela coragem de expor os cacos como se fossem cristais.

Direção de Ernesto Piccolo – 8.7/10 Há um caos ali que parece improviso, mas é orquestração pura. Piccolo conduz o espetáculo como quem sabe que um casal nunca anda em linha reta — e se anda, é porque alguém tá sendo arrastado. Ganha pontos por transformar DRs em dança e silêncios em roteiro.

Atuação de Vanessa Gerbelli – 9.5/10 Ela não interpreta: ela vive no limite entre o riso e o colapso. Gerbelli faz da fragilidade força e do desespero um número musical silencioso. Alta pontuação porque você sente vontade de abraçá-la... e depois pedir desculpa por tudo que já fez com alguém.

Atuação de Charles Myara – 8.9/10 Myara domina o tempo cômico, mas é no erro emocional — aquele olhar de “eu juro que tentei” — que ele nos ganha. Perde décimos pela previsibilidade masculina do personagem, mas recupera com autenticidade.

Cenário de Clívia Cohen – 9.0/10 É incômodo, claustrofóbico e quase ofensivamente real. Um lugar onde a briga já deixou cheiro na parede. Pontuação alta por conseguir ser metáfora e realidade sem precisar dizer uma palavra.

Figurino de Helena G Myara – 8.5/10 A roupa aqui é personagem. Nada está ali por acaso. O moletom tem memória, a lingerie tem saudade. Só não leva nota máxima porque dá gatilho — todo mundo já usou aquela camiseta na véspera de terminar.

Iluminação de Fernanda Mantovani – 8.8/10 Ilumina mais os abismos do que as soluções. E isso é um acerto. O foco está onde o desconforto mora, não onde o Instagram postaria. Alta pontuação por iluminar o que a gente queria esconder.

Trilha sonora de Rodrigo Penna – 9.1/10 A trilha tem ironia, tem dor, tem charme kitsch. É como aquele casal que briga ouvindo Roberto Carlos. Funciona como personagem coadjuvante que sussurra “eu avisei” no ouvido da plateia.

Preparação corporal de Isabela Callado – 9.0/10 Os corpos falam o que os diálogos sufocam. Há passos de mágoa, tropeços de orgulho, e silêncios coreografados com precisão emocional. Ganha pontos por transformar o trivial em expressão cênica.


Ponto negativo 


Falta de alívio verdadeiro – 7.0/10 A peça arranca risos, mas eles nem sempre aliviam. Às vezes, sufocam. A carga emocional pode se tornar densa demais, e em alguns momentos, o público não tem tempo para respirar — como numa briga real que não acaba nunca. Perde pontos por excesso de espelhos: nem sempre estamos prontos para nos ver.


Resultado final: 9.0/10


Por Paulo Sales

Boca
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