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DJ Meme “Clássicos Reboot Vol. 2”: Remixes Surreais de Tim Maia, Gal, Ney e Cássia | Música

Uma bomba sonora de precisão cirúrgica nas pistas

DJ Meme

DJ Meme “Clássicos Reboot Vol. 2”: Remixes Surreais de Tim Maia, Gal, Ney e Cássia | Música


Prepare-se: DJ Meme não remixou apenas músicas — ele remixou o tempo. Com “Clássicos Reboot Vol. 2”, lançado pela Universal Music, o produtor carioca ativa o modo máquina do tempo e joga uma bomba sonora de precisão cirúrgica nas pistas. É um projeto que poderia ser apenas um exercício de nostalgia dançante, mas não — Meme entrega uma aula de respeito ao passado e ousadia tecnológica que beira o alquímico.


Aqui, remix não é destruição. É reconstrução. Cirúrgica, como ele mesmo diz. E ele opera com o bisturi de quem estudou cada célula dos originais. O álbum traz 10 faixas icônicas da música brasileira repaginadas não para os algoritmos, mas para as almas inquietas das pistas. É aquele som que faz você dançar com um pé no vinil e outro no digital.


Logo nas faixas de abertura — “Lábios de Mel” (Tim Maia), “Vida Vida” (Ney Matogrosso) e “De Bar em Bar” (Cassiano) — sente-se o dedo de Lincoln Olivetti pulsando nas camadas sonoras. Mas o que Meme faz não é simplesmente amplificar o legado do mestre dos arranjos: ele turbina. É Whey protein nos instrumentos, como ele brinca, e não está mentindo. Os arranjos ganham músculos, o groove ganha corpo, e tudo soa mais nítido, mais sexy, mais vivo.


“Mentira”, de Marcos Valle, é um caso à parte — quase um reboot dentro do reboot. Meme faz a faixa dialogar com o tempo em dois momentos: o Valle de 1973 e o de agora se encontram em um piano novo, gravado especialmente para o remix. É música como cápsula do tempo, onde nada é descartado — tudo é ressignificado.


Mas não se engane: Clássicos Reboot Vol. 2 não vive só de reverência. É também uma coleção de ousadias calculadas. Em “Alagados”, Meme brinca de Frankenstein do bem: injeta beats, dobra baterias, estica a faixa para quase 9 minutos e transforma o reggae pop dos Paralamas em uma mini ópera eletrônica afro-latina. A cereja? Gilberto Gil, agora elevado a protagonista vocal.


A inventividade segue com “A Gira”, do Trio Ternura, onde Meme muda acordes, regrava o baixo e teletransporta a faixa para um planeta onde o soul encontra a house music sob um céu de groove. E com “Malandragem”, ele comete uma heresia permitida: deconstrói tudo, menos a voz de Cássia Eller. O que surge é uma discoteca alternativa onde Frejat e Cássia finalmente dividem o palco, ainda que na eternidade da mixagem.


“Maresia” vira house underground. “Azul”, um delírio de pista. “Bye Bye Brasil”, um bolero-funk que cola no cérebro e mexe com as ancas. Em todas essas faixas, DJ Meme age como um restaurador sonoro, alguém que, em vez de apagar o tempo, o enaltece — com graves mais redondos, reverbs mais precisos e um amor quase militante pela música brasileira.


Este Clássicos Reboot Vol. 2 não é só uma continuação: é uma afirmação. Um manifesto de quem acredita que o futuro da música brasileira passa — obrigatoriamente — pela redescoberta do seu passado. Meme, com mais de 40 anos de estrada, não soa datado: soa atualíssimo, por justamente saber onde estão enterrados os ossos do groove nacional.


Para os puristas, pode soar quase sacrílego. Para quem frequenta clubs, pistas ou playlists com fones imersivos, é puro alimento. E para os que transitam entre os dois mundos — como o próprio Meme — é um presente. Um reboot que, em vez de zerar tudo, amplia o jogo.


Em tempos de excesso de beats e escassez de memória, “Clássicos Reboot Vol. 2” é uma provocação elegante: dançar o novo sem esquecer de onde se veio. E, nesse sentido, DJ Meme faz mais do que remixar — ele reeduca o ouvido nacional. Em estéreo e com bom gosto.

Meme
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