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Gota D’Água - In Concert: A atmosfera de tragédia não é plenamente alcançada, com escolhas técnicas que não favorecem a intensidade dramática necessária | Teatro | Crítica

Foto do escritor: circuitogeralcircuitogeral

Uma tentativa de reviver algo que, ao longo de 16 anos, não se distancia de um passado que parece ser reverenciado em excesso

Gota D’Água - In Concert

Gota D’Água - In Concert: A atmosfera de tragédia não é plenamente alcançada, com escolhas técnicas que não favorecem a intensidade dramática necessária | Teatro | Crítica


19/02/2025 - teatro fashion mall


Gota D'Água - In Concert, um espetáculo que revisita um marco da história do teatro brasileiro, apresenta-se como uma tentativa de reviver algo que, ao longo de 16 anos, não se distancia de um passado que parece ser reverenciado em excesso. A produção, ao invés de oferecer uma renovação, parece buscar preencher as lacunas com o peso histórico da obra, sem conseguir se conectar de forma efetiva com os tempos atuais.


Izabella Bicalho, em sua performance como Joana, parece carregar o legado de Bibi Ferreira, que já trouxe a personagem à vida com maestria. Porém, a interpretação de Bicalho se mantém em uma zona de repetição, sem explorar novos aspectos da personagem que poderiam enriquecer a experiência. A performance, embora tecnicamente sólida, não estabelece uma conexão profunda com o presente, e a personagem, por vezes, soa como um eco do passado, sem a transformação necessária para impactar o público de forma renovada. Embora seja possível identificar o conflito de classes e a tragédia grega, a abordagem da atriz não consegue oferecer uma perspectiva que vá além do previsível, limitando a profundidade da representação.


A tensão entre Joana e João, que deveria ser um dos momentos mais impactantes do espetáculo, acaba se tornando excessiva pela repetição quase idêntica da cena em que João agride Joana. Esse deja-vu acaba criando uma sensação de cansaço, quando se esperaria uma variação que trouxesse uma carga emocional renovada a esse conflito. A atmosfera de tragédia não é plenamente alcançada, com escolhas técnicas que não favorecem a intensidade dramática necessária. A iluminação, por exemplo, se torna excessivamente intensa nos atores em primeiro plano, criando desconforto no público, enquanto a banda, levemente iluminada ao fundo, sugere uma iluminação cênica sem criatividade. O público, ao invés de ser imerso na tragédia, acaba distanciado, como se estivesse diante de uma encenação que não consegue explorar o potencial do texto de forma plena.


A abordagem do cenário e do figurino, de Dance to Fly, busca fundir o clássico com o contemporâneo, mas falha ao não integrar esses dois universos de forma convincente. O contraste entre os elementos visuais evidencia a distância entre o que é representado no palco e o que o espetáculo tenta transmitir, criando uma ilusão de contemporaneidade que, ao invés de enriquecer a produção, acaba reforçando uma sensação de estagnação criativa.


Gota D'Água - In Concert se esforça para manter viva uma chama que, embora não se apague, não encontra novos caminhos. O espetáculo não morre, mas também não evolui. O drama não consegue se sustentar, e o tom de comédia contido no texto original soa datado. No fim, a produção é mais uma homenagem ao passado do que uma interpretação significativa do presente. É um réquiem melancólico de algo que poderia ter sido mais, mas que se contenta em ser uma tentativa de replicar sua própria grandeza. Não há aqui espaço para a redenção ou a invenção, mas apenas a triste lembrança de um tempo que já não ressoa com relevância nos dias de hoje.


Por Paulo Sales

Gota
1958

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