O que poderia ser um retrato sincero da dor se transforma em uma série de cenas esteticamente agradáveis, mas vazias, como postais de uma Paris que só existe para os turistas.
inverno em Paris: Sombras de um Luto | Cinema
Dirigido por Christophe Honoré, promete um mergulho nas profundezas do luto e do autoconhecimento, mas se perde em sua própria pretensão. Paul Kircher, na pele do jovem Lucas, carrega o peso de uma tragédia familiar que, ao invés de se transformar em uma narrativa rica e envolvente, se torna um exercício cansativo de melancolia e clichês.
A premissa é sedutora: um jovem devastado pela morte do pai, em busca de consolo no meio-irmão, interpretado por Vincent Lacoste. No entanto, a viagem à capital francesa rapidamente se transforma em um passeio por locações pitorescas que pouco acrescentam à profundidade emocional prometida. Honoré parece mais interessado em embelezar a tela do que em explorar os abismos da alma humana. O que poderia ser um retrato sincero da dor se transforma em uma série de cenas esteticamente agradáveis, mas vazias, como postais de uma Paris que só existe para os turistas.
Juliette Binoche, como a mãe aflita, aparece em momentos que parecem mais uma homenagem ao seu próprio talento do que uma contribuição real à trama. Sua presença é um lembrete pungente do que o filme poderia ter sido, mas, em vez disso, nos deixa com um gosto amargo de frustração. As relações familiares, em sua essência, são tratadas com uma superficialidade que beira o insulto. Os diálogos, muitas vezes, soam como tentativas desajeitadas de poesia, mas carecem da autenticidade necessária para ressoar verdadeiramente.
A jornada de Lucas em busca de amor e esperança, embora repleta de boas intenções, é toldada por uma execução que se arrasta em ritmos monótonos. As tentativas de captar a essência das conexões humanas parecem mais uma formalidade do que uma exploração genuína. Em vez de emergir como uma ode à resiliência, "Inverno em Paris" se estabelece como um lembrete doloroso de que, às vezes, o que se pretende ser uma reflexão poética sobre a vida se transforma em uma exibição de estilo sem substância.
Se a proposta era oferecer um olhar sensível sobre a perda e a redenção, o resultado final é um filme que, em sua busca por profundidade, acaba se afogando em suas próprias contradições. A beleza da cidade, que poderia ser um personagem à parte, se torna apenas um pano de fundo para um drama que, por mais que aspire a grandes emoções, nunca consegue capturá-las de maneira autêntica. "Inverno em Paris" é uma promessa não cumprida, um eco distante do que poderia ter sido, mas que, ao final, nos deixa a questionar: onde, de fato, estão as conexões que tanto se busca?
Por Paulo Sales
Dia 10 de outubro nos cinemas.
Ficha técnica
Roteiro: Christophe Honoré
Produção: Philippe Martin & David Thion
Trilha sonora: Yoshihiro Hanno
Diretor de fotografia: Rémy Chevrin, AFC
Diretor de arte: Jérémy Streliski
Figurino: Pascaline Chavanne
Montagem: Chantal Hymans
Técnico de som: Guillaume Le Braz
Editor de som: Valérie De Loof
Mixer: Thomas Gauder
Produtor de elenco: Léolo Victor-Pujebet
Assistente de direção: Julie Gouet
Diretor de produção: Nicolas Leclere
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