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Kyoto de Yasunari Kawabata: O Desvanecer de Tradições e o Colapso de um Império Cultural | Livro

Foto do escritor: circuitogeralcircuitogeral

Uma peça bonita e valiosa, mas que não consegue mais esconder seus desgastes

Kyoto de Yasunari Kawabata

Kyoto de Yasunari Kawabata: O Desvanecer de Tradições e o Colapso de um Império Cultural | Livro


"Kyoto", o livro de Yasunari Kawabata, é como aquele quimono carcomido pelo tempo: uma peça bonita e valiosa, mas que não consegue mais esconder seus desgastes. A história de Chieko, uma jovem vivendo a decadência comercial e cultural de Kyoto, é, na melhor das hipóteses, um reflexo do que muitos considerariam uma história de falência — de um negócio familiar que desmorona e de valores tradicionais que se perdem em meio às pressões de um mundo ocidentalizante.


O romance explora a queda da loja de quimonos de sua família, um símbolo do mundo antigo, um Japão que não resiste aos ventos modernos do capitalismo e das influências estrangeiras. Kawabata, no entanto, dá ao leitor uma visão de uma Kyoto que, tal como o comércio da família de Chieko, parece estar à beira da ruína: um Japão que se despede de sua essência para dar lugar à globalização. Não há apenas uma crise comercial aqui, mas também uma crise de identidade cultural.


A protagonista, Chieko, vai assistindo a tudo de maneira passiva, como se a cidade e sua vida estivessem se desintegrando diante de seus olhos, sem que ela pudesse fazer muito além de observar. Essa passividade não ajuda na construção de uma narrativa envolvente. A leitura é pesada, um pouco morosa, e o romance nunca consegue criar um vínculo real com o leitor. Assim como a loja de quimonos de seu pai, a história parece estar à deriva, tentando manter-se relevante e interessante, mas sem conseguir sustentar seu valor essencial.


Além disso, a revelação de sua irmã gêmea, separada no nascimento, traz mais uma camada de drama familiar, mas pouco acrescenta ao desenvolvimento da personagem. Em meio às reviravoltas e às tentativas de adaptar-se a uma nova realidade, a sexualidade de Chieko se aflorando na adolescência surge como uma metáfora fraca para as transformações que ela e a cidade estão enfrentando, e novamente o romance se perde em discussões superficiais.


Por mais que Kawabata tenha sido um mestre em capturar a beleza das paisagens e da cultura de Kyoto, sua obra aqui não é capaz de se livrar do peso das convenções. As descrições sobre a cidade, embora detalhadas, são entediantes e, por vezes, excessivamente estilísticas. O Japão que se observa é um Japão em crise, mas também um Japão que já se foi, e o livro acaba se tornando uma reflexão melancólica e nostálgica, mas sem a profundidade necessária para nos fazer sentir a perda de forma palpável.


"Kyoto", como um quimono desgastado e uma loja em falência, parece uma tentativa de preservar algo que já não pode mais ser preservado. A riqueza cultural é evidente, mas a leitura, como o próprio cenário da história, é enfadonha e marcada por uma sensação de impotência diante do inexorável avanço da modernidade. Para quem busca algo mais que apenas uma reflexão sobre a transição entre eras, esta obra pode ser uma decepção. Talvez o romance de Kawabata tenha sido significativo em seu tempo, mas, hoje, soa mais como uma relíquia de um passado que mal conseguimos entender.


Kioto
1734

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