Uma abordagem introspectiva e cuidadosa
Pontos Positivos:
Direção e Visão de Pablo Larraín: O diretor chileno oferece uma abordagem introspectiva e cuidadosa, característica que enriquece a narrativa. A escolha de abordar os últimos dias da vida de Maria Callas, com seu tom melancólico e psicológico, é uma decisão interessante que pode atrair os apreciadores de biografias mais sutis e introspectivas.
Performance de Angelina Jolie: A atuação de Jolie se destaca como o ponto alto do filme. Ela consegue transmitir as complexidades emocionais de Maria Callas com profundidade, alternando entre a majestade pública da diva e a fragilidade interna da mulher que enfrenta a perda de sua voz e identidade artística. Além disso, a atriz se arrisca a cantar, o que traz mais autenticidade à sua performance.
Cinematografia de Ed Lachman: O trabalho visual de Lachman é estonteante. Ele utiliza a iluminação e os cenários com precisão, criando uma atmosfera de grandeza e reflexão. A escolha do preto e branco nos flashbacks é eficaz para contrastar a juventude e os sonhos de Callas com sua realidade presente. A fotografia, de maneira geral, é uma das maiores qualidades do filme, contribuindo para sua estética única.
Pontos Negativos:
Falta de Intensidade Emocional: Apesar da premissa promissora e da cuidadosa direção, o filme não consegue entregar a carga emocional esperada. A abordagem contida de Larraín, ao evitar o melodrama, acaba diminuindo o impacto das cenas mais emocionais, fazendo com que a narrativa perca a dramaticidade e o vigor necessário para uma história tão intensa quanto a de Maria Callas.
Distanciamento Estilístico e Narrativo: A escolha de Larraín em usar um estilo visual refinado e uma narrativa que alterna entre realismo poético e uma abordagem mais artificial pode afastar o público da verdadeira essência emocional da protagonista. Essa oscilação entre o estilizado e o realismo enfraquece o impacto emocional do filme e cria uma sensação de distanciamento.
Retrato Incompleto de Maria Callas: O filme não explora plenamente a complexidade da figura de Callas, especialmente no que diz respeito à sua relação com a música e a arte. Embora o filme busque mostrar sua luta interna, ele falha em capturar a grandiosidade da soprano e sua luta pela redenção artística e pessoal. A abordagem de Larraín, ao evitar cair em clichês, acaba deixando a história incompleta e, em alguns momentos, vazia.
Por Paulo Sales

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