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Mario Tommaso “Rasga o Coração”: A Melancolia Ardente do Amor Imortalizado em Poemas e Canções | Música

Foto do escritor: circuitogeralcircuitogeral

Uma obra que mergulha nas profundezas da alma humana

Mario Tommaso “Rasga o Coração

Mario Tommaso “Rasga o Coração”: A Melancolia Ardente do Amor Imortalizado em Poemas e Canções | Música


Rasga o Coração: poemas e canções de amor para o nosso tempo é uma obra que mergulha nas profundezas da alma humana, resgatando a melancolia clássica da canção brasileira enquanto a transita com uma suavidade quase imperceptível, porém visceral. Através da voz e da sensibilidade de Mario Tommaso, o disco evoca uma nostalgia que não é meramente do passado, mas de um presente dilacerado pela fragilidade do amor, que se estende e se esvai como uma chama que arde lentamente. Não há apenas música aqui, mas uma poesia contida no vibrar de cada acorde, um sussurro de existências que já não são, mas sempre foram.


A produção de Cezinha Oliveira, a quem se deve a riqueza nos arranjos, é de uma elegância sublime, e os músicos que compõem a obra – de Guilherme Ribeiro ao trompete de Rubinho Antunes, passando pelo baixo de Johnny Frateschi – parecem, a cada nota, ilustrar a solidão e os encontros que se formam e se desconstroem nas batidas do tempo. As participações, entre elas as das talentosas Bruna Prado e Keyla Fogaça, fazem ecoar as complexas dinâmicas de relação que permeiam o álbum, como se cada voz fosse um reflexo quebrado do eu lírico de Tommaso.


As releituras de clássicos como A Noite do Meu Bem ou Eu Sou a Outra não são apenas homenagens; são recriações intensamente pessoais que emergem no universo de um cantor que sente, não apenas interpreta. O jazz romântico de Johnny Alf, com seu arranjo refinado, dialoga com o flamenco de Ale Kalaf de maneira que a sensualidade e o desespero da perda se encontram no mesmo espaço de enigma. A melancolia, que permeia a estética do samba-canção, revive sem parecer uma repetição, mas uma reinvenção de uma dor sem tempo.


A incursão pelo território das palavras de Clarice Lispector e Gilka Machado é uma homenagem ao poder da escrita como uma outra forma de cantar. O poema se transfigura, as palavras ganham a força do grito sussurrado, do silêncio rasgado. Pas de Deux sobre uma Página do Livro dos Prazeres, que faz da voz e do violoncelo uma dança de delicadeza e intensidade, e Tua Voz, onde a entrega se torna visceral, são exemplos da profundidade com que Tommaso se permite ser vulnerável diante do ouvinte.


Ao final, o álbum se fecha com Elogio da Sombra, título que, de alguma maneira, sintetiza o espírito do disco. Como sombras, as canções se estendem, fluem, desaparecem, deixando para trás um traço de sua passagem: um eco de amor que não é definitivo, mas que persiste, com o peso da memória e a suavidade do que poderia ter sido.


Rasga o Coração não se trata de um mero passeio pelo passado musical; é uma viagem interior, onde o amor, em suas mais diversas facetas, se revela tão atual quanto intemporal. É uma obra que não apenas escuta a dor do amor, mas lhe dá voz. E, assim, ao rasgar o coração, Mario Tommaso nos ensina a beleza da dor que, embora nunca cure, nos permite sentir o pleno valor de estar vivo.


Álbum
1912

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