Natal Sangrento: Ho Ho Horror e Terapia no Machado
- circuitogeral
- há 1 dia
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O fantasma do trauma de infância materializado em carne, ódio e acessórios cortantes

Natal Sangrento: Ho Ho Horror e Terapia no Machado
Natal Sangrento, na visão de Mike P. Nelson, é aquele tipo de filme que olha para o clássico dos anos 80 e pensa: “Bonito, obrigado… agora deixa eu destruir e reconstruir tudo com mais trauma, mais sangue e mais existencialismo do que deveria ser permitido em datas comemorativas.”
Nelson não quis fazer um remake quadro a quadro. Ele quis identidade própria e conseguiu criar algo que parece ter sido embrulhado com laço e ódio. É respeito ao legado, sim, mas daquele jeito tenso, como quem visita um tio distante e diz: “Eu te admiro, mas não vou viver a sua vida. Eu vou fazer bagunça.”
O coração da história continua sendo Billy (Rohan Campbell), o pobre coitado que viu os pais serem assassinados na véspera de Natal. Trauma legítimo. Dor profunda. Vocabulário emocional zero.
A ironia cruel é que Nelson não quer apenas mostrar o sofrimento dele. Quer que você torça por ele mesmo quando ele se torna um serial killer. É o tipo de conflito moral que faz você se perguntar: “Estou mesmo simpatizando com um homem que usa fantasia de Noel para espalhar caos? Estou. Socorro.”
Ele é vítima e algoz ao mesmo tempo. E o filme usa isso para cutucar seus nervos: até onde vai a empatia? Até onde vai a monstruosidade?
Nada aqui é só susto. Nelson bebe de influências de terror psicológico, daqueles filmes que fazem você repensar sua sanidade enquanto observa as luzes piscando como se fossem código Morse de desespero.
O clima é pesado, denso, introspectivo. Um Natal que não cheira a rabanada, mas a trauma, culpa e reflexão forçada. A ideia é clara: o símbolo do Natal, alegria, esperança e família, vira uma caricatura deformada pelo sofrimento humano. O resultado é um contraste lindo e grotesco ao mesmo tempo.
Billy subverte completamente o traje vermelho. Não é mais o bom velhinho. É o fantasma do trauma de infância materializado em carne, ódio e acessórios cortantes.
O filme apresenta uma personagem que obriga Billy a encarar seu passado, quase uma sessão de autoconfronto no meio da tragédia. É brutal, mas com propósito. A violência não é apenas estética: é alegoria. E a mensagem é clara: trauma mal resolvido não vira cura, vira faca.
Há um equilíbrio perigoso: manter a essência do horror cult dos anos 80, mas adaptá-lo para uma geração que exige mais camadas psicológicas, éticas e simbólicas. Não basta fazer sangue espirrar. É preciso justificar o porquê.
E o filme tenta, com força, mostrar que o horror pode ser questionamento, dor, crítica e metáfora, e não apenas espetáculo. O risco? Flertar demais com a simpatia pelo assassino. Mas Nelson parece consciente disso e trabalha o drama interno com cuidado.
A nova versão de Natal Sangrento funciona como um espelho estranho. Mostra como dor, injustiça e perda podem deformar símbolos, pessoas e memórias. É um filme que usa o terror não como fim, mas como ferramenta para falar de empatia, culpa, violência, memória e redenção fora do prumo.
Quando termina, você olha para o Papai Noel e pensa: “Esse sorriso sempre foi tão confiante assim? Ou eu é que nunca percebi o perigo?”
No fundo, é isso que o filme entrega:
um Natal que não conforta, mas confronta.




