Uma trama impregnada de memórias e significados
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O Casamento Não Compensa: Descubra o Impacto de Mundico e Maria do Juca na Obra de Dino Sávio | Livro
Com um título que provoca curiosidade e uma trama impregnada de memórias e significados, o terceiro livro de Dino Sávio, O casamento não compensa (Editora Conhecimento), é uma obra que se distancia das convenções, não apenas na narrativa, mas também na forma como ela desafia o leitor a se perder e se reencontrar em suas próprias ideias sobre amor, compromisso e destinos trágicos.
Após suas incursões literárias anteriores, Quem é de lá que vem aí? e Torre de Controle, ambos repletos de nuances de sua vivência e olhar jornalístico, Sávio apresenta agora um mergulho profundo em um universo rural e montanhoso, em um povoado de Minas Gerais onde o impossível parece se tornar realidade. O autor não opta por discutir as instituições ou as complexidades do casamento de maneira direta, mas explora suas ramificações através do comportamento inusitado de um grupo de homens que, em um raro e taciturno movimento social, resolvem esperar pelo enlace de Mundico, o homem venerado pela comunidade, que nunca se casa — e, por conseguinte, não cumpre a promessa que todos esperavam.
A história é centrada na figura de Maria do Juca do Alípio, uma mulher que dedica sua vida e seu amor a Mundico com uma paixão tão avassaladora quanto infrutífera. Aqui, Sávio não apenas narra uma história de frustração amorosa, mas tece com maestria o retrato de uma comunidade sufocada pela expectativa, pela vida que não acontece. O autor consegue transformar o ambiente rural em um personagem vivo, repleto de sabores, sons e sentimentos, como um microcosmo onde cada ato de amor parece beirar o absurdo, mas também o sublime.
O escritor nos revela, com uma honestidade desarmante, a complexidade de seu próprio processo criativo. O casamento não compensa é, segundo o próprio Dino Sávio, uma obra que levou 38 anos para ser concluída. Este tempo não apenas espelha a maturação da narrativa, mas também da sua relação pessoal com os personagens — figuras que atravessaram sua infância e adolescência e que, por mais que se diluíssem no tempo, nunca perderam sua vivacidade em sua memória. Esse vínculo profundo com os personagens confere ao livro uma autenticidade palpável, como se cada detalhe da história tivesse sido extraído de um baú repleto de relíquias sentimentais, com um afeto irrestrito pela simples e imensa beleza da vida que se escapa.
Mas a obra não se restringe ao plano das recordações e do nostálgico. O coração da história pulsa com uma transformação inesperada, que vem do além, um fenômeno da natureza que altera completamente os rumos do enredo. E, sem spoilers, é impossível não se deixar envolver pelo modo como a natureza se torna uma metáfora para os destinos dos personagens, esses seres humanos que, como o povoado de Minas, são à mercê do imprevisível.
Na prática, o romance de Sávio é muito mais do que uma narrativa sobre amores não correspondidos ou vidas que se perdem em ilusões. Ele constrói uma crítica velada, mas poderosa, à natureza das relações humanas, ao peso da tradição, à espera frustrada e à força incontrolável do destino. Se "O casamento não compensa" fosse apenas sobre o não-casamento, seria uma reflexão sobre a escolha da solteirice — mas vai além disso, com uma carga existencial que não cede a respostas fáceis.
Com uma escrita de grande fôlego e um enredo que mistura o pessoal e o coletivo com destreza, Dino Sávio nos oferece um romance que é, ao mesmo tempo, denso e revelador, repleto de nuances e simbologias. A obra é uma meditação sobre a solidão e a paixão, sobre o que significa amar, e sobre o espaço entre o que desejamos e o que realmente acontece. Cada página é uma abertura de possibilidades e, ao final, nos encontramos não apenas com um livro, mas com uma experiência literária repleta de ecos emocionais e reflexões que nos perturbam e nos encantam.
O casamento não compensa é, sem dúvida, uma das obras mais intrigantes e, ao mesmo tempo, gratificantes da literatura brasileira contemporânea. Uma obra que exige e recompensa o olhar atento e o coração aberto.
Por Paulo Sales
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