O Legado - Marcelo Falcão: Ressaca de Esperança e Ironia Social
- circuitogeral
- há 48 minutos
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Um disco que é praticamente um kit de sobrevivência emocional

O Legado - Marcelo Falcão: Ressaca de Esperança e Ironia Social
Falcão, aos 51 anos, está igual àquele sábio que nunca perde a piada, mas também não perde a revolta. O cara pega a própria vida, favela, rua, reggae, espiritualidade, tretas, cicatrizes, joga tudo no liquidificador e entrega um disco que é praticamente um kit de sobrevivência emocional, um “faça você mesmo” do afeto resistente.
E o nome? “O Legado”. Ele já começa dando um tapa na cara, porque legado não é deixar herança, é deixar vergonha na cara para os outros. É basicamente Falcão dizendo: “Galera, não quero fama eterna, quero que vocês parem de ferrar o planeta e se abracem mais, porra.”
Cada música vem com uma função específica, como um aplicativo de bem-estar:
“Fela Kuti” ativa o modo guerrilheiro interno. “Crença e Fé” é a atualização de software emocional que a desigualdade social obrigou a gente a baixar. “Nunca Esquecer Você” é para mandar indiretamente para aquela pessoa que te dá trabalho, mas que você ama assim mesmo. “Falcão e Lobo” é para quando você entra no modo “hoje eu vou vencer, nem que seja só para irritar alguém”.
Então chega “Legado”, a homenagem ao Chorão, que lembra aquele amigo direto e sem filtros que surge dizendo: “Relaxa, eu vim só para te lembrar que você ainda não superou nada”. Falcão mexe em 30 mil arquivos, porque brasileiro não sabe jogar nada fora mesmo, e pesca a voz original do Chorão para criar uma ponte entre gerações. Ele envolve o filho do Chorão, o próprio filho dele, a banda inteira e cria um clipe que é praticamente a super-reunião de família que a gente queria no Natal, mas sem parentes discutindo política.
O disco inteiro é assim: um grande multiverso afetivo em que Falcão reúne L7NNON, Cynthia Luz, Orochi, Tales de Polli, Toni Garrido e possivelmente mais uns 12 primos distantes da música brasileira. É uma colaboração que não acaba mais.
E o homem não para. Ele produz, compõe, canta, cria novos sons, encontra maneiras de falar sobre esperança, tudo isso com a tranquilidade de quem venceu pandemias, crises, conflitos e qualquer dificuldade que surgisse em sua jornada.
No fim das contas, “O Legado” é a carta aberta de um artista que sabe que música não é só para tocar, é para cutucar. Falcão entrega um disco que funciona como lembrete universal: o que você deixa não é ouro, é atitude. Não é fama, é verdade. Não é palco, é transformação.
E se tudo isso não bastasse, o homem ainda tem a cara de pau de fazer a gente acreditar que dá, sim, para continuar lutando, com humor, com coragem e, claro, com aquele reggae que atravessa a vida igual consolo de mãe.
Marcelo Falcão não lança só um álbum. Ele lança um tutorial de humanidade.
E, sinceramente, a gente estava precisando.




