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"Pássaro Futuro": O Voo Poético de Consuelo de Paula e Regina Machado | Música

Foto do escritor: circuitogeralcircuitogeral

Obra que transcende o simples gesto de criação musical para se tornar um manifesto de coragem e beleza

Pássaro Futuro

"Pássaro Futuro": O Voo Poético de Consuelo de Paula e Regina Machado | Música


Na aurora da arte, onde as estrelas se alinham para formar algo mais do que a soma das partes, surge Pássaro Futuro, obra que transcende o simples gesto de criação musical para se tornar um manifesto de coragem e beleza. A dupla de artistas, Consuelo de Paula e Regina Machado, nos brinda com um álbum em que a complexidade sonora encontra a simplicidade do voo, e a música se mistura ao silêncio, ao vento, ao universo. Em cada acorde, em cada letra, um convite à viagem interior, à reflexão sobre nossa humanidade e nossa ligação profunda com o cosmos.


De sua gestação durante a pandemia, Pássaro Futuro carrega o frescor da espontaneidade que brota do encontro entre almas criativas. Como uma chama que se acende de forma inesperada, a troca entre Consuelo e Regina gerou uma obra que se desenvolve de maneira orgânica, como um pássaro que não apenas voa, mas se constrói, se refaz, se transforma, até que se despede, deixando no ar o eco do seu canto. A primeira sensação ao ouvir o álbum é a de estar sendo conduzido por um rio sonoro onde as águas, ora calmas, ora turbulentas, nos revelam paisagens inesperadas e reflexões profundas sobre o ser.


O que se ouve, de fato, é um voo contra o vento do tempo, uma resistência ao imediatismo e à pressa que marcam nossa era de consumo acelerado. Regina e Consuelo desafiam as convenções, e nos oferecem uma sonoridade que não se submete aos clichês contemporâneos. Melodias sinuosas, arranjos que dançam no limiar entre a quietude e o movimento, letras poéticas que ressoam em nossa alma, e tudo isso tece um caminho sonoro que se desenha com a delicadeza de um pássaro que se ergue lentamente até as alturas, para logo se perder no horizonte.


Os arranjos, conduzidos pelas mãos sensíveis das artistas e seus músicos convidados, tornam-se mais do que simples bases instrumentais: são paisagens que respiram. O violão de Regina, o cello de Mário Manga, os pianos de Guilherme Ribeiro, as percussões de André Rass e Nicolas Farias – cada instrumento parece ser uma extensão da própria natureza, do vento, da brisa e da tempestade que atravessam o ser humano. Há ali uma conversa com o silêncio, com a espera, e até com o vazio – espaço onde reside a verdadeira beleza do som.

Se o pássaro, em sua natureza, é um símbolo da liberdade, Pássaro Futuro é um grito poético e sonoro pela redescoberta dessa liberdade: uma liberdade não de fuga, mas de compreensão. Ao falar de aves extintas, como na afetuosa "Ave Passageira", o álbum nos lembra do que se perdeu e do que ainda está por vir. As canções, carregadas de uma espiritualidade silenciosa, parecem sugerir que estamos todos em busca de algo maior – algo que transcenda a dor e o vazio do tempo.


Cada faixa de Pássaro Futuro é uma linha em um grande poema, onde os pássaros não são apenas aves, mas entidades que habitam o infinito. Em "Ayrá", o vento se torna voz e dança, uma celebração do espírito da natureza. Em "Plumagem", a ancestralidade se encontra com a modernidade, e as palavras se transformam em imagens vibrantes, como pássaros voando no céu aberto da nossa imaginação. O álbum se encerra com a canção "Atiaru", onde o deus-pássaro Tupã é convocado para iluminar o caminho, uma oração coletiva para a cura e renovação da Terra.


O que é mais impressionante em Pássaro Futuro não é só sua habilidade de unir poesia, música e espiritualidade – mas sim o modo como essas dimensões se entrelaçam, se nutrem mutuamente, e se tornam algo mais amplo, mais universal. O álbum é, de fato, um espelho de nossa relação com o mundo: um convite à introspecção, à transformação, à reflexão sobre nossa jornada enquanto humanidade.


Neste trabalho, Consuelo e Regina não apenas compõem uma obra musical, mas, mais do que isso, oferecem uma vivência – um roteiro sonoro onde o futuro é voo e o voo é futuro. E ao nos despedirmos desse pássaro, sabemos que seu canto, ecoando na brisa, vai permanecer para além do horizonte, como um legado de beleza e verdade.

Pássaro Futuro não é apenas um álbum; é um presente divino, um sopro de inspiração que se espalha no ar, convidando-nos a voar.


Pássaro
2004



1 comentario


Que linda visão do álbum! Pássaro Futuro é mesmo toda essa beleza jorrando sobre nós. Estou apaixonada!

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