Roxy Dinner Show: Um Marco na Cena Carioca
Por Paulo Sales e Mauro Senna
15 de agosto de 2025
Fotos: MSenna
Vídeo: PSales
Travessia para outra era: a chegada ao Roxy Dinner Show
Não se trata de uma simples resenha ou cobertura institucional. É um convite para que o leitor experimente — ainda que por meio das palavras — a novidade e a intensidade do que se apresenta nas instalações do Roxy Dinner Show, reafirmando seu papel como marco contemporâneo no circuito cultural carioca.
Na movimentada esquina da Rua Bolívar com a Avenida Nossa Senhora de Copacabana, o prédio se impõe no cenário urbano. Inaugurado em 17 de outubro de 2024, o Roxy Dinner Show reluz com sua fachada art déco dos anos 1930 e convida o público a muito mais do que assistir a espetáculos: a embarcar numa verdadeira viagem no tempo.
Sob a liderança de Alexandre Accioly, o Roxy Dinner Show preserva sua essência, unindo tradição e inovação sob o olhar de um empreendedor visionário. Motivado pela carência de uma opção noturna de entretenimento de alto padrão para famílias, cariocas e turistas, Accioly idealizou o projeto e liderou o desenvolvimento do investimento de R$ 67 milhões, que resultou na criação do espetáculo — uma referência mundial em sua categoria e um marco no circuito cultural do Rio de Janeiro.
O projeto de reforma, assinado pelos arquitetos Sérgio Moreira Dias e Ana Lúcia Jucá, apresenta uma releitura arquitetônica enriquecida por detalhes contemporâneos. Os volumes arredondados e a composição simétrica da icônica edificação remetem à elegância da Copacabana dos tempos dourados. O letreiro original, na grafia da época, repousa sobre a marquise curva como um convite ao passado — e à experiência única que começa já na calçada.
Ali o tradicional grafismo das ondas de Copacabana, criado por Roberto Burle Marx e adaptado para a esquina, guia os passos de quem chega. O detalhe, embora sutil, expressa o espírito da casa: respeitar a história sem abrir mão do presente.
A entrada centralizada e luminosa, com esquadrias que lembram latão polido, funciona quase como um portal: ao cruzá-la, o visitante deixa para trás o burburinho da cidade e adentra uma atmosfera repleta de espetáculo, glamour e memória.
O antigo hall de cinema, hoje restaurado como foyer, mantém o pé-direito generoso, as formas curvas e os elementos decorativos que evocam a elegância dos grandes cinemas de rua do século passado. No lugar da bombonière, um bar acolhe os espectadores.
O espaço preserva a simetria original, evidente na escadaria em leque invertido, ladeada por colunas douradas que replicam aquelas que sustentam a marquise externa, e nos corrimãos metálicos com detalhes em

latão. No patamar, duas esculturas em estilo art déco remetem à arte egípcia, reforçando o espírito ornamental do período. Ao fundo, no topo da escada, um painel decorativo de 1938 atrai olhares com sua composição estilizada — um vestígio original que sobreviveu às décadas.
O acolhimento é feito por recepcionistas caracterizados com figurinos que evocam a elegância e o glamour dos antigos bilheteiros e lanterninhas. Essa ambientação reforça o vínculo entre a experiência contemporânea e a memória da era de ouro das salas de projeção.
A movimentação no foyer é fluida. Em vez da pressa que costuma anteceder um espetáculo, observa-se uma curiosidade silenciosa. Visitantes exploram ângulos, observam detalhes, apontam para o brilho dos metais e para as figuras de época. O bar organiza o fluxo com naturalidade, funcionando não apenas como serviço, mas também como núcleo estético e social. Aqui, a espera deixa de ser intervalo e se torna parte integrante da experiência.
Em seguida, a Circuito Geral assume o privilégio de uma experiência que foge ao roteiro habitual do público. Ao entrar no salão-restaurante, os jornalistas percebem a magnitude do espaço, com capacidade para 626 comensais distribuídos entre plateia e mezanino. As mesas, para quatro pessoas cada, estão dispostas de forma radial e concêntrica, direcionando o olhar para um palco ainda oculto pela magnífica cortina austríaca de veludo dourado.
A visita à cozinha — conduzida pelo chef-executivo Caio Silva — revela um mundo invisível ao público, mas essencial ao encantamento gastronômico que se desdobra à mesa. Com 800 m² projetados para atender aos mais rigorosos padrões de higiene e segurança alimentar, o ambiente abriga 30 profissionais que trabalham em turnos quase ininterruptos, garantindo 21 horas diárias de operação. Do preparo matinal à finalização dos serviços, o espaço pulsa em ritmo intenso: ingredientes são organizados, fornos acionados, caldas reduzidas. No fim da tarde, pratos quentes e sobremesas são montados com precisão e armazenados sob cloches reluzentes, aguardando o momento exato de serem servidos.
Após o tour gastronômico, os jornalistas são acompanhados por um dos 16 maîtres que coordenam uma equipe de 50 garçons responsáveis por servir cerca de 1.500 pratos diariamente. O cardápio, renovado a cada estação, é assinado por um chef convidado. Nesta temporada, o carioca Danilo Parah incorpora referências brasileiras com sofisticação — sem esnobismo — agradando aos paladares mais exigentes. Os trajes dos garçons trazem elementos do grafismo de Burle Marx, símbolo emblemático do calçadão de Copacabana.

A partir das 19h, o público que explora o foyer ao som de drinks e aperitivos acessa seus lugares na plateia e no mezanino. Recepcionado pelo trio da Banda Roxy — violoncelo, violão e bateria —, o ambiente é embalado por sucessos da Bossa Nova e da MPB nas duas horas que antecedem o espetáculo.
O cardápio oferece dois menus: Copacabana — duas entradas, quatro pratos principais e três sobremesas — e Rio de Janeiro — três entradas, seis pratos principais e quatro sobremesas.
No Menu Copacabana, cada jornalista experimentou uma seleção distinta, que revela a riqueza e a versatilidade da culinária apresentada:
Jornalista 1:
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Entrada: Crudo de atum com coalhada de queijo de cabra, picles de erva-doce e mini tomates. Clareza de sabores e técnica precisa, preparando o paladar para o banquete emocional. Inteligente, elegante, quase japonesa na sutileza, mas tropical na alma.
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Prato principal: Filé mignon ao ponto com mil-folhas de mandioca, molho de jabuticaba e caviar de aroeira (pimenta-rosa). Combina ancestralidade e precisão, rusticidade e sofisticação. Brasil de raiz e vanguarda num prato que só faria sentido aqui.
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Sobremesa: Texturas de chocolate com pé-de-moleque de castanhas brasileiras e creme de cumaru. O contraste entre o chocolate profundo e a acidez luminosa do cumaru evoca biomas e sabores.
Em contraponto, a experiência do segundo jornalista destaca elementos regionais e combinações inovadoras, conferindo ao menu uma amplitude de referências:
Jornalista 2:
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Entrada: Mix de folhas e ervas, tomates assados com pesto de plantas da Amazônia e castanha-do-pará. Sabores do norte do Brasil em combinação simples, mas temperada com maestria.
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Prato principal: Peixe grelhado ao molho de limão-cravo com palmito assado e vinagrete de feijão. Fusão de ingredientes enraizados na culinária brasileira, familiar e inovadora.
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Sobremesa: Suspiro com creme de coco, chocolate branco, geleia de abacaxi, calda de maracujá e erva-mate. Cinco notas sensoriais que encantam a cada porção.
Para harmonizar com os pratos, a carta de bebidas reúne uma seleção refinada de espumantes, champagnes e vinhos.








Onde o Rio se Veste de Espetáculo
Às 21h, a Banda Roxy se despede, abrindo espaço para um show capaz de encantar turistas internacionais, nacionais e cariocas — todos reconhecendo-se nas músicas, imagens e detalhes do espetáculo Aquele Abraço.
A proposta preserva a vocação do icônico cinema de rua, substituindo a tradicional tela por um painel de LED curvo, de 30 metros de largura por 7 metros de altura, equipado com tecnologia 4D. Esse recurso cria uma experiência imersiva que combina elementos visuais, sonoros e efeitos especias, transportando o público para diferentes cenários e sensações.
A direção geral do espetáculo é conduzida pelo cenógrafo Abel Gomes. O show leva o título da canção Aquele Abraço, lançada por Gilberto Gil em 1969, emblemática por suas referências ao Rio de Janeiro e à sua cultura, que incluem bairros, clubes, escolas de samba e figuras populares da cidade. A música se tornou um símbolo de resistência cultural e celebração da identidade brasileira.
Essa resistência se reflete também na concepção do empreendimento, que preserva e valoriza elementos arquitetônicos carregados de história e significado. A cúpula luminária, com seus impressionantes 280 m² e mais de duas toneladas, foi redescoberta e cuidadosamente requalificada, mantendo sua originalidade. Ela se estrutura na imponente abóbada de 36,2 metros de diâmetro, projetada pelo engenheiro Emílio Henrique Baumgart, que passou por restauração e recebeu isolamento térmico e acústico.
Assim como a canção que batiza o espetáculo, esses elementos arquitetônicos simbolizam a resistência da cultura carioca, preservada e renovada, mesmo diante dos desafios sociais e políticos do período em que o projeto da casa foi concebido.
O roteiro de Leonardo Bruno, aliado à direção cênica de Priscilla Mota e Rodrigo Negri, explora ao máximo o talento dos 60 artistas. Eles surgem entre o público com o qual interagem diretamente, ocupam o palco e utilizam o painel de LED para criar cenas imersivas. Ao longo da apresentação, retornam à plateia, ampliando a área de encenação, aproximando as cenas dos espectadores e intensificando as emoções.
Pretinho da Serrinha assina a direção musical e conduz um extenso repertório de canções e ritmos que definem a linha mestra do espetáculo. Os figurinos, assinados por Leonardo Bora e Gabriel Haddad, vestem o elenco com 350 peças exclusivas.
Destaque especial vai para as fantasias da escola de samba que encerra o espetáculo, cujos padrões gráficos são inspirados nas decorações carnavalescas de rua dos anos 60, idealizadas por Fernando Pamplona, reforçando a sutileza simbólica e o resgate cultural presentes na apresentação.
A luminotécnica de Maneco Quinderé guia o olhar do público e intensifica a emoção de cada quadro, realçando detalhes e criando atmosferas que envolvem e transportam os espectadores.
Quando as luzes se apagam e o último acorde se desfaz no ar, permanece a sensação de ter vivido não apenas um espetáculo, mas um abraço amplo, caloroso e carregado de histórias — um abraço que só o Rio sabe dar. É um convite irresistível para voltar sempre, como quem retorna à própria casa, encontrando ali a alma pulsante de uma cidade que celebra sua cultura com paixão e generosidade.















