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Corte Fatal: Direção Precisa em uma Comédia Policial Interativa | Crítica | Teatro

Poderia ousar um pouco mais? Sim

Corte Fatal

Pontos Positivos


  • Direção e ritmo cênico (Pedro Neschling): 9.5/10 A condução da peça é elegante, econômica e precisa. O espetáculo mantém um ritmo afiado como lâmina, equilibrando improviso e estrutura com naturalidade.

  • Tradução e adaptação (Gustavo Klein): 9/10 A tradução consegue manter a alma do original e ainda soar genuinamente brasileira. Não se rende a clichês culturais nem à literalidade. Um trabalho inteligente.

  • Interatividade com o público: 9/10 Um dos maiores méritos da peça. A interação não soa forçada nem desorganizada — o público participa sem que a dramaturgia se perca.

  • Atuação de Fernando Caruso: 9.5/10 Uma performance milimétrica. Seu humor é intelectual, suas pausas têm intenção, e sua entrega cênica mostra domínio absoluto.

  • Atuação de Douglas Silva: 9/10 Sua força está na escuta e na contenção. Constrói presença sem estardalhaço — e isso é raro. Ele eleva o conjunto sem disputar foco.

  • Cenário (Gustavo Paso): 9/10 Belo, funcional e coerente com a proposta. Um ambiente que colabora com o enredo sem chamar atenção para si — exatamente como deve ser.

  • Figurino e visagismo (Antonio Medeiros e Diego Nardes): 8.5/10 Bem-humorados e expressivos, traduzem os personagens com leveza e graça, evitando estereótipos fáceis.

  • Trilha sonora (Rodrigo Marçal e Rafael Papel): 8/10 Sutil e eficiente. Amarra cenas, insinua climas e reforça atmosferas sem jamais exagerar.

  • Iluminação (Adriana Ortiz): 8/10 Precisa e discreta. Constrói ambientes com sobriedade e elegância, permitindo que a cena respire.


Pontos Mistos


  • Atuação de Carmo Dalla Vecchia: 7/10 Técnica impecável, mas um pouco distante do tom geral da peça. Falta-lhe talvez um toque de risco ou descontração para casar melhor com os colegas.

  • Participação especial de Cristiana Oliveira: 6.5/10 Sua presença é forte, mas parece mais decorativa do que funcional. Brilha por quem é, não pelo que faz no palco.


Pontos Negativos


  • Atuação de Paulo Mathias Jr.: 6/10 Caricato no limite — o que seria ótimo, se sempre mantivesse o controle. Em alguns momentos, flerta com o exagero e quebra o equilíbrio fino da comicidade.

  • Espontaneidade e risco cênico: 6/10 A peça é tão bem ensaiada e polida que, às vezes, parece carecer de frescor. Falta aquele elemento surpresa que só o improviso genuíno traz.

  • Equilíbrio de tons entre o elenco: 5.5/10 O entrosamento é bom, mas há oscilações perceptíveis no registro dos atores. Alguns vão para o absurdo, outros para o realismo contido — e o contraste nem sempre favorece a harmonia.


Média Geral: 8.3/10


Corte Fatal é uma comédia que entrega o que promete com qualidade acima da média. Sua inteligência cênica, respeito ao público e rigor técnico o colocam entre os melhores exemplos do gênero no teatro recente. Poderia ousar um pouco mais? Sim. Mas talvez sua maior ousadia seja justamente apostar no controle — e acertar.


Por Paulo Sales


corte fatal
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