O Bem-Amado: Uma farsa profundamente enraizada nos conflitos sociais e políticos, com um caráter patológico que resiste ao tempo | Teatro | Crítica
- circuitogeral
- 21 de abr.
- 2 min de leitura
A montagem resgata a farsa clássica, com conflitos enraizados na corrupção, na manipulação e na decadência das instituições

PONTOS POSITIVOS
1. Direção com mão firme (Marcus Alvisi) Alvisi conduz o espetáculo com a precisão de um maestro. A estética refinada e o ritmo hipnótico criam uma atmosfera poderosa. É teatro com elegância e firmeza. Há domínio. Há intenção. Há estilo.
2. Apuro visual de tirar o fôlego Cenário, figurino e iluminação — tudo milimetricamente orquestrado. O trio Ronald Teixeira, Pedro Stamford e Daniela Sanchez entrega um universo estético que beira o luxo visual. É teatro que brilha (literalmente).
3. Coerência dramatúrgica com crítica atualíssima O texto de Dias Gomes continua ácido e relevante, e a montagem sabe disso. A crítica política pulsa viva, escancarando feridas brasileiras sem perder o humor farsesco.
4. Atuação sólida de Diogo Vilela Vilela segura o palco com técnica e presença. Seu Odorico é articulado, teatral, fiel à figura clássica do político corrupto. Falta novidade, sim, mas sobra competência.
PONTOS NEGATIVOS
1. Repetição estética e falta de reinvenção A encenação se rende à reverência. Ousadia vira tributo. E isso pesa. O texto tem pólvora, mas a montagem hesita em acender o pavio. A inovação bate à porta, mas ninguém atende.
2. Excesso de formalismo visual A estética engole a cena. O visual, embora belíssimo, torna-se uma armadilha. A teatralidade vira vitrine, e a emoção se esvazia. A crítica social vira quadro bonito na parede.
3. Música como tapa-buraco emocional A trilha sonora, em vez de somar, camufla. Em muitos momentos, soa como muleta para cenas que não sustentam a própria tensão. É ruído onde deveria haver silêncio e profundidade.
4. Elenco funcional, mas sem chama O conjunto entrega, mas não provoca. Falta entrega crua, carne viva, risco. Parece que todos sabiam o que fazer — e fizeram. Só. Sem alma incendiada.
5. Coreografia engessada Movimentos bonitos, mas frios. O corpo dos atores obedece à forma, mas não transborda emoção. A fisicalidade vira recurso estético, e não linguagem dramatúrgica.
Nota geral: 7/10 — Um espetáculo visualmente fascinante, teatralmente competente, mas criativamente tímido.
"O Bem-Amado" aponta o dedo, mas não cutuca com força. Tem força estética, mas vacila na reinvenção. É uma bela homenagem, quando poderia ser uma revolução.
Por PSales
Foto: MSenna

コメント