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A Perseguição: quando o thriller olha para a câmera e suspira cansado

Esqueça perseguições de carro com trilha empolgante ou detetives carismáticos resolvendo crimes enquanto tomam café

A Perseguição

A Perseguição: quando o thriller olha para a câmera e suspira cansado


A Perseguição (Six Jours), de Juan Carlos Medina, já chega deixando tudo claro: não está interessado em divertir você. A proposta aqui é responsabilizar. Esqueça perseguições de carro com trilha empolgante ou detetives carismáticos resolvendo crimes enquanto tomam café. Neste filme, o café esfria, o erro pesa, o tempo corre e o desconforto moral se instala. Inclusive no espectador, que só queria ver um sequestro fictício resolvido antes do jantar.


O conceito de “seis dias” não funciona como simples prazo. Medina o transforma em ameaça. O tempo não passa, ele cobra. Cobra decisões apressadas, cobra consciência e cobra juros emocionais altos. Cada minuto empurra alguém para uma escolha ruim, porque pensar com calma já não é mais uma opção.


Malik Rezgui (Sami Bouajila) está longe de ser um Sherlock Holmes contemporâneo. Ele é o investigador que errou feio em 2006 e nunca superou. Carrega a culpa no corpo e no olhar, como quem anda com uma mochila cheia de tijolos. Torto, cansado e sempre a um passo da queda. Medina deixa claro que investigar não tem glamour algum. É repetitivo, frustrante e cobra seu preço, seja em cabelo, sanidade ou fé na humanidade.


A polícia, como costuma acontecer no cinema mais realista, funciona à base de regras, prazos e gente dizendo para deixar isso para lá. A capitã Julia Nowak (Manon Azem) representa essa lógica institucional que prefere seguir o protocolo a encarar o erro. O filme insiste na pergunta: até onde é possível obedecer às normas sem se tornar cúmplice do absurdo? A resposta não é animadora.


Medina também rejeita qualquer traço de espetáculo. A fotografia cinza, a chuva constante e os longos silêncios criam um ambiente de desgaste contínuo. Aqui não há explosões catárticas, apenas suspiros cansados. É um thriller que troca adrenalina por exaustão e faz isso de propósito.


Quando a narrativa parece caminhar para um lugar-comum já conhecido do thriller europeu, o filme executa viradas discretas, mas eficazes. Não são reviravoltas que gritam “plot twist”, e sim aquelas que sussurram: você achou mesmo que seria tão simples? Nesse processo, a mãe da vítima acaba se mostrando mais eficiente do que boa parte da polícia, reforçando uma regra não escrita do gênero: quando a instituição falha, o desespero individual costuma agir melhor.


No fim das contas, A Perseguição é menos sobre capturar um sequestrador e mais sobre tentar corrigir um erro antes que ele prescreva. Legalmente ou moralmente. Medina entrega um filme incômodo, cansativo e provocador. Não é o tipo de thriller para assistir relaxado. É o tipo que encara o espectador e pergunta se ele faria melhor.


A resposta mais honesta provavelmente seria não.

A maioria teria desistido no segundo dia.

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