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Biquini+Big Mountain: Uma Tempestade Sonora Entre o Atlântico e o Pacífico

Atualizado: 23 de set.

Um encontro que, longe de ser apenas simbólico, soa como uma nova cartografia musical

Biquini+Big Mountain: Uma Tempestade Sonora Entre o Atlântico e o Pacífico


O Qualistage virou o epicentro de um terremoto musical no último sábado (20/09/25), e, sinceramente, se a Terra tremesse como aquele palco tremeu de nostalgia e heterogeneidade geracional, o Rio de Janeiro já teria afundado tipo Atlântida ao som de "Baby, I Love Your Way".


De um lado, o Big Mountain, trazendo o reggae leve, californiano, vibe "fumaça medicinal legalizada", com Quino, o vocalista com cara de quem te ofereceria um chá de camomila antes de falar de anticapitalismo. Do outro, o Biquini, ex-Cavadão, atual Emancipado, com mais de 40 anos de estrada, cabelos brancos (ou ausentes) e um fôlego que desafia a física e o plano de saúde.


Foi um evento que tentou unir dois mundos: o jovem universitário de 1997 que queria mudar o mundo com um violão e o ex-jovem de 2025 que mudou o mundo… de canal, porque agora tá cansado. A plateia era um espetáculo à parte: coturnos de couro dividindo espaço com Crocs, dreadlocks naturais e cabelos tingidos com Grecin 5, todo mundo no mesmo Wi-Fi emocional.


O Big Mountain entrou no palco como quem chega no churrasco de vizinho: tranquilo, sorridente, e já pedindo para botar Bob Marley na JBL. Eles tocaram “Touch My Light” e o público balançava como se estivesse numa lan house em 2003, jogando Counter-Strike com música de fundo.


Mas o auge foi a semiacústica de "Baby, I Love Your Way", tão delicada que parecia trilha sonora de comercial de margarina vegana. Uma paz reinou sobre o lugar. Teve até discurso do Quino sobre resistência e justiça social  e o pessoal prestou atenção como quem escuta o coach espiritual do Instagram que ainda não foi desmascarado.


Aí entrou o Biquini, com o carisma de quem já pagou muito DARF e sobreviveu à MTV Brasil. Quando começaram os acordes de “Tédio”, a galera gritou como se fosse Carnaval de 1999: uma mistura de alegria e hérnia de disco.


Eles tocaram "Janaína", "Dani", "Impossível"... e sim, a plateia sabia todas as letras. Porque brasileiro pode esquecer a senha do banco, mas não esquece refrão de pop-rock nacional.


O momento “cringe encontra coach” veio com a estreia de “Você tem o que merece ter”. Letra afiada, meio engajada, meio “post de indignação passivo-agressiva no LinkedIn”. É como se o Biquini tivesse se olhado no espelho e dito: "chega de tocar só pra tiozão bêbado em show de prefeitura, vamos ser politizados, mas com guitarra solo".


A fusão final veio com "Vento Ventania" em dueto com Quino ou, o momento em que Copacabana pegou carona num longboard da Califórnia. Foi bonito. Foi sincero. Foi aquele tipo de colaboração que faz você pensar: "não era necessário, mas já que tá aqui, eu vou curtir".


E ali estava o verdadeiro terremoto: uma geração querendo reviver seus 20 e outra descobrindo que é possível envelhecer sem virar estatística de botox ou de negacionismo. Tudo junto, embalado por luzes boas, som limpo e aquela vibe de quem ainda acredita que a música pode salvar o mundo ou pelo menos ajudar a esquecer o boleto da semana.


Por Paulo Sales

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