Casa Origem: O retiro onde o ego faz silêncio só pra escutar o bom gosto ecoar
- circuitogeral

- 12 de out.
- 2 min de leitura
Não se trata de uma construção, mas de uma declaração
Casa Origem: O retiro onde o ego faz silêncio só pra escutar o bom gosto ecoar
Não se engane pelo nome singelo “Casa Origem” não é lar, é altar. Não se trata de uma construção, mas de uma declaração. Uma daquelas que você faz depois de tomar um gole de vinho natural, cruzar as pernas sobre um tapete exclusivo e dizer, sem dizer: “eu não sigo tendências, eu as respiro antes de virarem briefing.”
Com apenas 70 metros quadrados, sim, isso mesmo, setenta, essa residência é uma afronta elegante às mansões ensurdecedoras de ostentação explícita. Aqui, o luxo se disfarça de simplicidade, como quem usa linho cru pra ir até a esquina comprar pão de fermentação natural. Porque o verdadeiro bom gosto, meu amor, não se pendura em paredes instagramáveis: ele se infiltra no detalhe, na proporção, no silêncio entre um cômodo e outro.
O living, por exemplo, não é um espaço. É uma performance. Um manifesto de texturas e proporções onde o tapete, desenhado exclusivamente para o projeto, não apenas cobre o piso ele o ressignifica. Cerâmico? Talvez. Dramático? Com certeza. Um chão que se impõe com a gentileza de quem já nasceu relevante.
E aí vem ela: a muralha de pedra natural. Uma escultura travestida de parede que, se pudesse falar, diria com sotaque europeu: “je ne suis pas décor, je suis présence.” É a fronteira onde o brutalismo dá as mãos à contemplação zen, como se Lina Bo Bardi tivesse feito um retiro em Kyoto e voltado com vontade de abraçar.
A cozinha, aquela musa que não precisa de palco, opta pela humildade estética com a confiança de uma top model que sabe que o close será inevitável. Neutra, fluida, funcional. Um santuário da contenção onde cada armário parece sussurrar: “não é porque sou útil que deixo de ser sexy.”
Na suíte, a marcenaria dança. Ela não separa ambientes ela coreografa o espaço. As divisórias de madeira são como véus entre realidades: sugerem privacidade sem trancá-la, numa elegância que flerta com o voyeurismo zen. E a cama? Ah, a cama… repousa no centro como quem não precisa ser centro. Está ali, pleníssima, esperando você perceber que a pressa não entra em casas que nasceram pra contemplar.
O banheiro é um delírio minimalista com alma de spa boutique. Um haicai em pedra natural e vegetação pontual, como se um monge zen tivesse feito pós-graduação em design escandinavo. Não é banheiro, é retiro espiritual com encanamento. É o tipo de lugar onde você escova os dentes tão lentamente que o creme dental tem tempo de desenvolver caráter. E ao enxaguar o rosto, não duvide: a água faz uma pausa dramática antes de escorrer como quem agradece pela oportunidade de tocar em alguém tão esteticamente resolvido.
Mas o verdadeiro luxo da Casa Origem está além dos acabamentos, das escolhas arquitetônicas ou do mobiliário curado com mais critério que lista de convidados de vernissage. Está na sua alma camaleônica. Uma casa que se permite ser galeria, retiro, palco e refúgio tudo ao mesmo tempo, sem nunca perder a compostura nem a personalidade.
Em tempos de casas que gritam, a Casa Origem sussurra. E é nesse sussurro que mora o verdadeiro escândalo.
Por Paulo Sales









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