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Gente de Bem: Um espetáculo corajoso, necessário e artisticamente afiado | Crítica | Teatro

Um espetáculo que não alivia

Gente de Bem

Ponto Altíssimo — 10/10 A imersão antes do início: A experiência começa antes da primeira fala. O elenco já está em cena quando o público entra, rompendo a linha entre realidade e ficção, plateia e palco. Esse gesto é sutil, mas poderoso. Há aqui uma quebra de expectativa que dissolve a passividade do espectador — ele entra no jogo como cúmplice, não como observador.

Ponto Elevado — 9/10 Direção de Adriana Maia: A condução é cirúrgica. A encenação é um soco que vem com precisão, mas sem pressa. Adriana Maia demonstra domínio sobre o ritmo e sobre o desconforto como linguagem. Nada é gratuito. Tudo pulsa em direção à crítica.

Ponto Relevante — 8.5/10 Dramaturgia corrosiva: Ao adaptar “Necrochorume”, o espetáculo encontra no texto de João Ximenes Braga uma verve afiada, livre da moral televisiva. O texto não quer agradar — e por isso agride com eficácia. É seco, sarcástico e absolutamente atual. A estrutura em quadros alternados é eficaz em manter a tensão e a imprevisibilidade.

Ponto Notável — 8/10 Elenco coletivo: Treze intérpretes e nenhum protagonista — todos ocupam o mesmo terreno ético e estético. Há unidade de linguagem, e cada ator carrega a tensão da cena sem recorrer a exageros ou estereótipos, mesmo quando se aproxima da caricatura. Há entrega e escuta, e isso reverbera.

Ponto Estratégico — 7.5/10 Iluminação e som como narradores invisíveis: A luz de Anderson Ratto e a trilha de André Poyart atuam como agentes dramáticos. A luz revela em vez de embelezar; o som ironiza em vez de reforçar. O cinismo técnico contribui para o mal-estar proposto pela obra.

Ponto Frágil — 6/10 Risco de dispersão na estrutura modular: Os quadros alternados, embora inovadores, podem gerar a sensação de obra incompleta para alguns espectadores — especialmente aqueles que assistem a apenas uma das combinações. Nem todos os públicos verão todos os quadros, e isso pode provocar ruídos na recepção.

Ponto Crítico — 5.5/10 A dureza pode afastar: A proposta radicalmente crítica tem um custo: parte do público pode se sentir agredido ou mesmo excluído da experiência. Não há zonas de conforto, e embora isso seja mérito cênico, também pode ser um obstáculo de comunicação para públicos menos afeitos ao teatro político.


Veredito Final — 9/10


Por Paulo Sales

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