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Herege: A Fé Que Consome a Alma é a mesma Que Destrói a Verdade | Crítica

Poderia ser apenas mais um thriller religioso, explorando de forma profunda e perturbadora a fé, o dogma e a moralidade humana, mas é algo muito além disso


Pontos Positivos


1. Análise Profunda da Fé e Moralidade Humana:

O filme vai além de um thriller religioso convencional, ao transformar a temática da fé em um território exploratório e inquietante. A busca das personagens pela palavra de Deus é retratada de forma complexa, sendo menos sobre a simples disseminação de doutrinas e mais sobre um conflito interno existencial e filosófico. Isso adiciona camadas à narrativa, elevando-a para uma reflexão profunda sobre o que é realmente a fé, como ela se transforma em um mundo cético e como a moralidade humana é desafiada.


2. Abordagem Original ao Gênero de Terror:

"Herege" se destaca por não recorrer a elementos sobrenaturais ou místicos para gerar medo. O terror, aqui, não está nos monstros ou fenômenos inexplicáveis, mas na dissolução da fé, no confronto com a incerteza existencial e no confronto interno das personagens. Esse afastamento do terror convencional e a escolha por uma ameaça mais psicológica e filosófica conferem ao filme uma proposta única e profunda.


3. Crítica Social e Religiosa Refinada:

O filme não se limita a questionar a religião, mas examina como a fé pode ser manipulada, corrompida e usada como ferramenta de controle. Ele vai além da simples crítica à dogmas religiosos e entra na desconstrução do próprio conceito de fé, mostrando-a como um mecanismo que pode ser tanto libertador quanto opressor, dependendo da forma como é utilizada.


4. Construção de Personagens Complexas:

As protagonistas, irmã Barnes e irmã Paxton, são personagens complexas e tridimensionais. Elas representam não apenas a busca por uma fé sólida, mas também a luta contra o vazio existencial que surge quando a fé começa a se desintegrar. A forma como elas lidam com suas crenças, suas dúvidas e suas próprias imperfeições dá profundidade emocional ao filme, criando uma conexão forte com o público.


5. Ambiguidade e Cenário Distópico:

O cenário do filme é sutilmente distópico, refletindo a desintegração de um mundo sem certeza moral ou espiritual. A ambiguidade do ambiente reforça o tema central da dúvida e da falta de respostas definitivas, contribuindo para uma atmosfera inquietante que não oferece conforto ou clareza, mas, sim, uma sensação constante de tensão.


6. Reflexão Filosófica e Existencial:

O filme não se limita a fornecer entretenimento; ele propõe uma reflexão filosófica sobre questões existenciais universais. O dilema das personagens sobre viver sem certezas, a busca de sentido em um mundo sem respostas claras e a constatação de que a fé pode ser mais uma prisão do que uma libertação são temas abordados com coragem e profundidade.



Pontos Negativos



1. Falta de Personagens Secundários Desenvolvidos:

As protagonistas, irmã Barnes e irmã Paxton, são bem desenvolvidas, mas outros personagens, como os coadjuvantes e figuras religiosas que surgem no filme, são pouco explorados. Isso pode fazer com que o filme pareça excessivamente centrado nas duas missionárias, deixando o universo do filme e suas interações sociais mais limitados e menos complexos do que poderiam ser.


2. Tom Desesperançoso:

A atmosfera do filme é imersiva, mas sua abordagem pode ser difícil para alguns espectadores. A ausência de qualquer forma de esperança ou resiliência, combinada com a sensação de impotência diante do desconhecido, pode ser emocionalmente exaustiva, deixando o público com uma sensação desconfortável e sem alívio, o que pode ser um desestímulo para aqueles que preferem um tom mais equilibrado ou uma resolução mais otimista.


Por Paulo Sales


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