A Árvore do Rio - A volta luminosa de uma tradição carioca
- circuitogeral

- 7 de dez.
- 3 min de leitura
Uma tradição elegante
A Árvore do Rio - A volta luminosa de uma tradição carioca
A Árvore do Rio, esse monumento iluminado que, historicamente, brota a cada dezembro sobre o espelho d’água da Lagoa Rodrigo de Freitas, retorna em 2025 ao Complexo Lagoon depois de cinco anos de ausência. Com seus 60 metros de altura, funciona quase como um lembrete luminoso de que o Rio de Janeiro ainda tenta. Tenta ser sofisticado, tenta ser organizado, tenta ser mais do que aparenta, mas acaba sempre um pouco… ele mesmo.
De fato, há algo comovente em ver 200 mil pessoas reunidas ao redor de um espelho d’água monumental para testemunhar o acender de uma árvore dessa escala, um espetáculo que poderia ser visto da sala de casa, com a serenidade que só o próprio lar oferece. Mas o carioca prefere sentir a festa pulsando ao vivo, gosta da proximidade, do calor humano, às vezes literal, e dessa celebração que começa às 17h, quando o sol ainda chama para as praias da orla e a cidade parece conspirar a favor do encontro.
E este ano havia ainda o momento mais aguardado, com canhões de luz alinhados ao Cristo Redentor em um gesto simbólico de grande impacto visual, belo e teatral, marcado pela exuberância típica do Rio. A proposta funcionou como celebração e como mensagem, reforçando o empenho de entidades públicas e privadas em devolver à cidade um espetáculo que faz parte da memória coletiva. Nesse cenário de expectativas, Magda Chambriard, presidente da Petrobrás, e Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro, participaram do acionamento que iluminou pela primeira vez a Árvore do Rio em 2025. O ato marcou oficialmente a inauguração e deu início ao show de luz e cores que tomou a Lagoa Rodrigo de Freitas e todo o entorno do Complexo Lagoon.
Após a inauguração oficial, inicia-se o ritual diário de acendimento, quando um representante da cidade aciona o grande botão cenográfico que marca o início da programação de cada noite, incluindo a iluminação do Cristo Redentor. O gesto simboliza a participação da sociedade no evento e se repete até 6 de janeiro de 2026, mantendo vivo o espetáculo cenográfico e luminotécnico que envolve toda a região do Complexo Lagoon e do Parque da Catacumba durante o período natalino. A árvore permanece acesa de domingo a quinta-feira, das 19h à meia-noite, e às sextas-feiras e aos sábados, das 19h à 1h.

Quanto à programação artística, o palco recebeu a Orquestra Petrobras Sinfônica sob a regência de Felipe Prazeres, com a participação da solista Analu Pimenta, que conduziu um repertório que atravessou temas natalinos, clássicos populares e sucessos como Tico-Tico no Fubá e A Voz do Morro. Antes e depois da apresentação, o DJ convidado manteve o clima festivo com música pop em ritmo vibrante. O conjunto formou uma miscelânea musical típica da Lagoa Rodrigo de Freitas, tentativa honesta de contemplar diferentes gostos e de celebrar a pluralidade da cultura carioca, mesmo que nem sempre encontre unanimidade entre os ouvintes mais exigentes.
A Árvore do Rio exibe desenhos natalinos que incluem as vinte e sete estrelas das Unidades Federativas brasileiras, iluminadas por cerca de vinte quilômetros de LED e Neon Flex. A grandiosidade tecnológica poderia sugerir um consumo elevado de energia, mas a operação é sustentada por Diesel R, combustível renovável que representa uma tentativa honrosa de conciliar tradição luminosa e responsabilidade ambiental. Ao redor da instalação, a feirinha de artesanato natalino, o espaço para fotos, os pedalinhos gratuitos e a Casa do Papai Noel compõem um pequeno parque temático da esperança, projetado para envolver famílias, visitantes e curiosos no mesmo ambiente festivo.
No final, apesar do calor, das filas, do barulho e dessa teatralidade tão própria do Rio, é inevitável reconhecer que a Árvore do Rio talvez seja o gesto mais próximo que a cidade tem de uma tradição elegante. Há algo nela que lembra aquele parente distante que tenta caprichar na postura, no traje e no sorriso e que, mesmo não acertando sempre, desperta uma simpatia sincera pelo esforço. E, num momento em que o Rio ainda se recompõe das perdas e silêncios do período pós-pandêmico, talvez esse empenho coletivo, mistura de afeto, persistência e vontade de fazer bonito, já seja por si só um raro luxo contemporâneo.
Por Paulo Sales
Fotos: MSenna


























Comentários