Julius Caesar 'Vidas Paralelas' - uma linha experimental vanguardista
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Julius Caesar 'Vidas Paralelas' - uma linha experimental vanguardista

Atualizado: 7 de out. de 2023

Incômodas pitadas de inveja, mesquinhez e ressentimento shakespeareanos


resenha: psales e msenna


A Cia. dos Atores comemora os seus 35 anos de existência, celebrando o resgate das atividades das artes cênicas segundo a configuração platéia-espectadores e palco-atores após o hiato sofrido pela cultura em sua trajetória de 2019 a 2022. Com isso, presenteia o público ávido pelo retorno às salas de teatro, com um espetáculo que conta a história de uma companhia teatral dedicada ao ensaio de uma notória peça sobre o imperador romano Julius Caesar. Enquanto isso, questões de ordem pessoal e profissional afloram em meio aos exercícios de leitura do texto e de estruturação do espetáculo e se entrelaçam com a essência da tragédia shakespeariana, inspirada no livro "Vidas Paralelas" de autoria do filósofo grego Plutarco.

A abordagem objetiva, proposta pela direção de Gustavo Gasparani, mergulha em reflexões factuais, organizando as personagens em pares comparativos, denunciando intenção latente em provocar a predileção em meio aos personagens por parte de cada um dos espectadores. O analogismo entre as histórias é alimentado por sentimentos conflituosos e antagônicos movidos por amor, ambição, medo, revolta e perfídia, materializados pela interpretação filosófica de um elenco congregado pela sua excelência dramatúrgica, composto por César Augusto, Isio Ghelman, Gabriel Manita, Gilberto Gawronski, Suzana Nascimento e Tiago Herz.

Gasparani lança mão do carisma dos atores, ainda despidos de seus papéis, para inflar a plateia em formação antes mesmo do início do espetáculo, para que se entregue ao levante e à comoção, como um pré ensaio comportamental coletivo, colaborativo e espontâneo, visando à introdução de manifestações populares ao longo do espetáculo, provocadas pelos próprios personagens. A música e a sonoplastia, introduzidas no contexto do espetáculo seguindo uma linha experimental vanguardista concebida por Gabriel Manita, em fomento à dramaturgia e executado pelos próprios integrantes da trupe, também fazem parte desse prólogo de boas-vindas e de aliciamento junto aos espectadores.

As virtudes cenográficas de Beli Araújo fazem do palco uma caixa de surpresas repletas de livros de bolso com recursos de pop up, de onde emergem combates sangrentos, batalhas campais e ocupações de cidades. A toda essa arquitetura cênica se alia o dinamismo e o contraste entre luz e sombra como parte integrante da essência de cenas dramáticas, conferidas pela luminotecnia cênica de Ana Luzia De Simoni que enfatiza os perigos dos julgamentos prematuros e traduz as mensagens ambíguas contidas entre a honra e a moral. O despojamento criativo que se fez aliado necessário à viabilidade da retomada da maioria dos espetáculos também se faz presente nos figurinos de Marcelo Olinto que, se valendo do conteúdo dramatúrgico do elenco, permite que o ímpeto contido na interpretação dos conspiradores decline vestimentas e adereços desnecessariamente dispendiosos, libertando os personagens da sombra da ditadura plástica. As incômodas pitadas de inveja, mesquinhez e ressentimento shakespeareanos são habilmente manipulados pela direção de vídeo de Batman Zavarenze que complementa a dramaturgia presencial com recursos audiovisuais que mantém o espectador atento ao trilharem os meandros das histórias paralelas.

O empenho de Gasparani em desconstruir a verdade na esfera política e social é habilmente é perceptível através das atitudes contraditórias dos personagens, oferecendo ao espectador uma exposição contaminada pela crítica pessoal ao contexto social – fato esse endossado pelo silêncio contido na escuridão cênica ao final do espetáculo, interceptado pelos ensurdecedores aplausos que ecoam ao retomar das luzes, retomando uma tradição teatral com intensidade genuína.

A notabilidade da atual montagem de "Julius Caesar - Vidas Paralelas" retrata nada menos que a genialidade de Shakespeare, a partir de reflexões contemporâneas sobre poder, política e moralidade. Através de uma abordagem teatral ousada e de um elenco talentoso, a peça cativa e oferece ao público do teatro uma experiência provocativa e enriquecedora – um ponto a mais no já extenso currículo do talentoso diretor.


Ficha Técnica:

Dramaturgia e direção: Gustavo Gasparani

Direção de produção: Claudia Marques – Fábrica de Eventos

Elenco: Cesar Augusto, Isio Ghelman, Gabriel Manita, Gilberto Gawronski, Suzana Nascimento e Tiago Herz.


Equipe Artística:

Cenografia: Beli Araújo

Figurinos: Marcelo Olinto

Iluminação: Ana Luzia De Simoni

Direção de Vídeo Cenário: Batman Zavareze

Direção musical e trilha sonora composta: Gabriel Manita

Assistente de direção: Menelick de Carvalho

Produção Executiva: Cláudia Barbot

Produção Executiva (temporada Teatro Poeira): Bárbara Montes Claros


Comunicação:

Assessoria de Imprensa: Paula Catunda

Redes Sociais: Rafael Teixeira

Captação de conteúdo e clipes para redes sociais: Daniel Barboza

Design Gráfico: Felipe Braga

Fotografia: Nil Caniné


Serviço:

Temporada: até 25 de junho de 2023

Local: Teatro Poeira (Rua São João Batista, 104 – Botafogo – Rio de Janeiro)

Dias e horários: Quinta, sexta e sábado, às 20h. Domingo, às 19h.

Capacidade: 140 lugares

Ingresso: R$80 (inteira)|R$40 (meia) - plateia e mezanino

R$30,00 (preço único) – poleiro

Classificação etária: 12 anos. Duração: 120 min

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