“Linha, peso mínimo”, ou “Como segurar uma obra com a força do pensamento”
- circuitogeral

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O vazio tem peso

“Linha, peso mínimo”, ou “Como segurar uma obra com a força do pensamento”
Eu fui ver a exposição da Amalia Giacomini, “Linha, peso mínimo”, na galeria Multiplo, no Leblon, porque nada diz “leveza” como o Leblon, esse lugar onde até o IPTU flutua. E já começo dizendo: se você acha que linha é apenas aquilo que trava o seu Wi-Fi ou o que você não pode ultrapassar no sinal vermelho, Amalia vai te mostrar que você está errado e muito enganado.
A artista conseguiu pegar correntes de metal, pendurá-las no teto e fazer com que parecessem delicadas. Eu vi uma corrente descendo em curva perfeita e pensei: “Isso aqui é arte ou é o espírito do meu personal trainer me lembrando que faltei a semana inteira?”
A tal da catenária, essa curva científica sofisticada que a gente só aprende quando precisa pagar mico no Enem, na mão da Amalia vira poesia pura. Uma poesia tão fina, mas tão fina, que se você respirar mais forte, ela muda de lugar. Fiquei até com medo de tossir e virar coautor da obra.
E não se trata apenas de pendurar correntes. Amalia faz algo que parece simples, mas tem ali mais cálculo do que na minha declaração do Imposto de Renda. As correntes pendem, balançam, se entreolham e formam triangulações amorosas. É praticamente um Casos de Família geométrico, só que com elegância.
Elegância, aliás, é a palavra. Amalia olha para o espaço e diz: “Você, parede, vai participar. Você não está aqui apenas de enfeite.”
Há também um aspecto que adorei. O vazio tem peso. Olha que profundo. Fiquei parado olhando o vazio e pensando: “Meu Deus, finalmente alguém validou meu fim de semana inteiro.”
As linhas são realmente mínimas. Mínimas a ponto de parecer que a artista levou dois meses para fazer algo que parece não existir. Só que, de repente, aquilo te atravessa. É o famoso “quase nada” que te dá um tapa intelectual na cara.
O espaço fica tão reorganizado que saí de lá querendo reorganizar minha própria vida. Se com três correntinhas ela cria uma experiência transcendental, o que será que eu consigo fazer com meus boletos e meu CPF negativado?
Um convite a fingir que você entende física, geometria e o universo, enquanto discretamente tira uma foto dizendo: “Amei a densidade do vazio.”
No final, a sensação é a de que Amalia não faz obras, cria emboscadas estéticas. Quando você percebe, já está contemplando, pensando, sentindo e, sem entender como, virou uma pessoa melhor.
Ou, pelo menos, uma pessoa que agora respeita mais uma corrente pendurada no teto.
SERVIÇO
Exposição de arte contemporânea
Título: Linha, peso mínimo
Artista: Amalia Giacomini
Local: Maneco Müller : Multiplo Galeria
Bate-papo com amália Giacomini e Fred Coelho: 2 de dezembro (terça-feira), às 18h30
Reservas: WhatsApp (21) 2042 0523
Encerramento: 4 de dezembro de 2025
Visitação: De segunda a sexta-feira, das 10h às 18h30 (sábados, sob agendamento)
End: Rua Dias Ferreira, 417/206 – Leblon – Rio de Janeiro
Entrada franca







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