“8 Meses”: O Álbum-Mantra de Eduardo Kaczan Para Quem Já Amou de Longe e Sofreu de Perto
- circuitogeral

- 13 de out.
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O amor. Esse mal necessário, esse aluguel emocional que a gente paga em prestações de esperança, ilusão e boleto de terapia
“8 Meses”: O Álbum-Mantra de Eduardo Kaczan Para Quem Já Amou de Longe e Sofreu de Perto
O amor. Esse mal necessário, esse aluguel emocional que a gente paga em prestações de esperança, ilusão e boleto de terapia. E é exatamente nesse calvário doce e autoflagelante que Eduardo Kaczan mergulha de cabeça e sem bóia, em seu novo álbum “8 meses”. Mas calma: não se trata de um disco de amorzinho água com açúcar, daqueles que você ouve enquanto corta cebola fingindo que é emoção. Isso aqui é uma DR em forma de ópera pop, um diário emocional esculpido com bisturi lírico.
Logo de cara, somos apresentados a um projeto com mais camadas que uma cebola traumatizada: música, livro, teatro e cinema. Um verdadeiro multiverso da sofrência autoral. Kaczan não só viveu um relacionamento à distância em 2019 como fez dele uma franquia afetiva digna da Marvel emocional brasileira. É como se ele tivesse dito: “Já que vou sofrer, que seja rentável”.
Cada faixa é um mês. E cada mês, um estágio emocional da derrocada amorosa. Começamos com o romantismo embriagado de “fevereiro”, aquele momento em que a gente ainda acredita que amor à distância é só uma questão de planejamento e bom wi-fi. Avançamos para “março”, que tem a melhor aceitação do público provavelmente porque todo mundo se reconhece no início da queda, naquele momento em que o emoji de coração começa a sumir das mensagens e você passa a ver os dois risquinhos azuis do WhatsApp como um aviso de apocalipse.
Mas a cereja dessa torta de sentimentos vem em “maio”. A faixa do desabafo. A catarse. O grito. A música em que Eduardo, muito provavelmente, gravou com a veia da testa saltada e o telefone na mão, pronto para mandar um áudio de três minutos e meio dizendo “Você nunca me escutou de verdade!”. Aqui, ele joga tudo na cara e não de forma passivo-agressiva. É agressivo mesmo.
O que impressiona, porém, é como o artista transforma esse calvário afetivo em possível rendimento monetário. A história se desdobra em um curta-metragem, “Coração de Post-it”, que por si só já merece um TCC em psicologia afetiva com foco em constelações sentimentais. Kaczan interpreta “Core”, um ser emocionalmente comprometido que se apaixona por “Beta”, uma estrela literalmente. Ou seja, mais uma vez, o amor é inalcançável, intergaláctico, mas esteticamente impecável.
A produção sonora mescla MPB, pop e um quê de terapia de grupo disfarçada de arranjo. É bonito, é intenso, e tem momentos que parecem saídos diretamente de um divã com trilha sonora. As letras não são apenas confessionais, são confissões com assinatura em cartório e CPF exposto. A vulnerabilidade aqui não é truque de marketing, é processo de cura.
E, claro, tudo culmina em um musical. Porque se você vai se arrebentar emocionalmente, que seja dançando e cantando com figurino caprichado. A turnê “Coração de Post-it – O Musical” chega como o gran finale do multimeios: um espetáculo que pretende não só emocionar, mas talvez também evitar que você mande mensagem para o ex às três da manhã dizendo “tava ouvindo uma música que me lembrou você…”.
“8 meses” não é só um álbum. É um inventário emocional. Uma timeline de afeto com data, hora e localização dos estragos. Eduardo Kaczan nos entrega uma obra profundamente humana, artisticamente ousada e psicologicamente devastadora do jeitinho que os românticos gostam.











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