Ricardo Vilas & Banda Maravilha - Antes do Samba Havia Semba
- circuitogeral

- 17 de set.
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Atravessando o Atlântico com a leveza da ancestralidade e o peso simbólico da história

Ricardo Vilas & Banda Maravilha - Antes do Samba Havia Semba
Atravessando o Atlântico com a leveza da ancestralidade e o peso simbólico da história, o álbum Ricardo Vilas & Banda Maravilha é mais que uma obra fonográfica: é um gesto político-sonoro de reconexão entre dois territórios irmãos, Angola e Brasil, separados pela violência colonial, mas unidos por uma musicalidade compartilhada que sobreviveu, se reinventou e agora se (re)encontra com beleza e intenção.
Fruto de um encontro iniciado em 2012, quando Ricardo Vilas aprofundava sua investigação acadêmica sobre os fluxos musicais entre os dois países, este projeto é um testemunho de como a música pode ser território de acolhimento, escuta e reciprocidade. A escolha de trabalhar com a Banda Maravilha referência em sonoridades angolanas urbanas e tradicionais não é mero acaso: é a consagração de uma afinidade estética e ética.
O disco apresenta 12 faixas que transitam entre composições inéditas e autorais, onde o semba, a kizomba e o kilapanga dialogam com o samba, o choro e a MPB, numa troca fluida e sem concessões folclóricas. Aqui não se trata de "misturar ritmos" para agradar paladares globais, mas de permitir que cada tradição ocupe seu espaço e, a partir dele, converse com a outra de igual para igual. É nesse equilíbrio que se constrói a beleza do projeto Vilas-Maravilha.
As participações especiais Dionísio Rocha, Filipe Zau, Nilze Carvalho e Hudson Santos agregam camadas de profundidade emocional, especialmente na faixa "Amigo Irmão", verdadeiro hino à irmandade transatlântica. A canção evoca o espírito de solidariedade entre povos afro-diaspóricos, sem perder de vista as especificidades locais que formam a complexidade do "ser africano" no Brasil e "ser brasileiro" em África.
A produção sob a batuta da Conexão África Produções revela sensibilidade no tratamento sonoro, preservando as texturas orgânicas dos instrumentos, os timbres das vozes e os sotaques que enriquecem a narrativa fonográfica. Nada soa forçado ou artificial: tudo pulsa com o frescor do encontro verdadeiro.
Em tempos de globalização acelerada e apagamentos identitários, Ricardo Vilas & Banda Maravilha é um respiro ancestral, uma ponte sonora que resgata o que há de mais potente na relação entre Angola e Brasil: a memória viva dos tambores, dos cantos, das lutas e das festas que moldaram nossas culturas.
É, portanto, uma obra indispensável para quem compreende que a música não é apenas entretenimento, mas também instrumento de pertencimento, diálogo e reconstrução histórica. E neste disco, o som da África vinculadamente angolana se faz presente, altivo e amorosamente acolhido no corpo da música popular brasileira.







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