“Depois da Caçada”: Luca Guadagnino, devolve meu tempo
- circuitogeral
- há 1 dia
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Equivalente cinematográfico a um TCC de audiovisual escrito às 3h da manhã por alguém que passou a semana inteira discutindo “ética no ensino superior” com um boneco inflável
“Depois da Caçada”: Luca Guadagnino, devolve meu tempo
Olha, vamos começar com o básico: Depois da Caçada é o equivalente cinematográfico a um TCC de audiovisual escrito às 3h da manhã por alguém que passou a semana inteira discutindo “ética no ensino superior” com um boneco inflável. E esse boneco tem mais carisma do que qualquer personagem neste filme.
Luca Guadagnino, um homem que já nos deu obras intensas como Me Chame Pelo Seu Nome, agora entrega o que parece ser uma adaptação informal de uma thread do Twitter com 82 posts e zero noção. O filme reúne um elenco que, em teoria, faria qualquer roteirista chorar de alegria. Mas aqui, todos parecem estar participando de um workshop de atuação conduzido por uma Alexa com problema de conexão.
Julia Roberts interpreta Alma Imhoff, uma professora de Yale com a profundidade emocional de um filtro de café usado. Andrew Garfield é Hank, o colega competitivo que provavelmente usaria uma camisa com a frase "sou desconstruído, gata" enquanto manda mensagens passivo-agressivas no Slack. E Ayo Edebiri tenta desesperadamente resgatar alguma dignidade em meio a diálogos que soam como se fossem escritos por um estagiário de Sociologia em crise existencial pós-banho de ayahuasca.
A trama? Bom, alguém achou que seria uma boa ideia misturar assédio sexual, cultura do cancelamento e intrigas acadêmicas com o ritmo narrativo de um PowerPoint corporativo. Maggie (Edebiri) acusa Hank de uma investida inadequada, Alma fica em cima do muro com a mesma habilidade de uma porta emperrada, e tudo desmorona num clímax tão tenso quanto uma reunião de condomínio.
O roteiro escrito pela estreante Nora Garrett (que talvez devesse ter estreado com uns posts no X, não um longa), é um desfile de palavras grandes ditas por pessoas vazias. São 2 horas e 20 minutos de buzzwords como “patriarcado estrutural”, “discurso hegemônico”, e “responsabilidade intergeracional” cuspidas com tanta pretensão que chega a dar vontade de jogar um dicionário na tela grande e gritar “usa palavras normais, caramba!”.
A direção de Guadagnino, coitado, parece um experimento social. Ele enche o filme de close-ups tão invasivos que, em certo momento, você começa a se perguntar se está assistindo a um drama ou a um tutorial de maquiagem feito por um cineasta muito, mas MUITO inseguro. Os personagens olham direto para a câmera como se estivessem prestes a te vender um curso de coaching emocional. Só faltou o QR Code.
A trilha sonora, feita por Trent Reznor e Atticus Ross, parece um alarme de micro-ondas que se recusa a parar. Um tema de duas notas que toca a cada vez que alguém franze a testa, como se isso fosse a marca registrada do suspense inteligente. Sério, é como se tivessem entregado o teclado para um gato e dito “se vira”.
O que mais dói é perceber que esse filme acredita piamente estar dizendo algo relevante. Ele se leva tão a sério que se alguém acendesse uma vela perto da tela, Depois da Caçada viraria incenso. O problema é que, no fim, tudo soa como um grupo de WhatsApp de ex-alunos da FGV discutindo ética no Uber Black.
Se fosse uma paródia, talvez funcionasse. Mas não, Guadagnino está 100% comprometido em fazer você acreditar que está assistindo a um “comentário social pungente”, quando na verdade o que se vê é algo sem carisma, sem graça, e, infelizmente, sem nenhuma autocrítica.
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