El Escama Diz Que É o Último Disco — e o Algoritmo Finge Que Acredita | Música
- circuitogeral
- 23 de abr.
- 2 min de leitura
Vazio hiperlinkado da pós-ironia

El Escama Diz Que É o Último Disco — e o Algoritmo Finge Que Acredita | Música
No vazio hiperlinkado da pós-ironia, El Escama retorna não como um arauto do fim, mas como seu dublê acidental — o último disco que talvez seja o primeiro de um colapso. “ESSE É MEU ÚLTIMO DISCO” não é apenas um álbum; é uma espécie de acidente conceitual meticulosamente orquestrado, onde as faixas colidem como carros em câmera lenta num feed que não termina nunca. Escama não canta: ele digita em tom de voz.
O ouvinte entra pela porta de “Suspensão Voluntária da Descrença”, tropeça em “Estilhaços” e desaba na “Esquina”, onde talvez alguém esteja vendendo silêncios por likes. Cada faixa é um captcha emocional, testando se ainda somos humanos. Spoiler: não passamos.
“Vale da Estranheza” merece um parágrafo só pra ele, mas vai ter só meia linha porque assim é o algoritmo: um refrão que cospe verdades como quem compartilha conspiração no grupo da família, com riffs que soam como notificações de más notícias. O rock aqui não é resistência — é sintoma.
Escama aprendeu violão na pandemia e, como todo bom aprendiz, criou um manual de instruções emocionais disfarçado de álbum. Cada canção nasce de uma lição, o que faz deste disco uma apostila desobediente da pós-modernidade. O conteúdo? Um bicho-papão de likes, cursos online e autoajuda, cuspido em MP3.
O título é o maior spoiler da era digital: “ESSE É MEU ÚLTIMO DISCO” — uma mentira sincera, um clickbait que diz mais sobre o ouvinte do que sobre o artista. El Escama não promete sair de cena; ele promete que você clique. E você clicou.
A participação de Eduardo Pavloski em “Na Sua Bolha” é como uma janela aberta num submarino: ouve-se tudo e nada entra. O resto do disco é um glitch bem mixado por mãos que entendem que afinar também pode ser uma forma de provocar dissonância.
Se há coesão, ela é cúmplice do caos. Teclados sussurrantes, guitarras disformes, pedais que parecem pedalar para trás. A produção é elegante como um protesto silencioso em frente a um outdoor gritando "COMPRE MAIS".
“ESSE É MEU ÚLTIMO DISCO” não é o fim da estrada. É a notificação que ninguém pediu e todo mundo recebeu. Um trabalho que escamoteia sentido para devolvê-lo estilhaçado, como um meme de um pensamento profundo.
Recomendo ouvir de fone. Mas desligue o Wi-Fi. Só por segurança.

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