Nosso Irmão: Feridas Silenciosas que Nunca Cicatrizam | Teatro | Crítica
- circuitogeral
- há 4 dias
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Entre o trivial e o epifânico

PONTOS POSITIVOS
O texto de Alejandro Melero merece 9/10. Sua dramaturgia se equilibra entre o banal e o profundo, como uma briga abafada durante um velório. É uma escrita que não teme a trivialidade, mas a usa como isca para epifanias emocionais devastadoras.
A direção de Dan Rosseto também recebe 9/10. Sua abordagem é fria, clínica, e absolutamente consciente. Ele não tenta ressuscitar o cadáver emocional em cena, mas sim preservar sua integridade estética — como um verdadeiro taxidermista afetivo.
Bruno Ferian, no papel de Jacinto, entrega uma performance notável, digna de 8.5/10. Sua presença em cena é densa, opaca e sincera. Ele não oferece compreensão ou simpatia, apenas a crueza de existir em meio ao colapso familiar.
A cenografia de Kleber Montanheiro atinge 8.5/10. A casa retratada não é apenas um espaço, mas um corpo abandonado. Cada objeto e parede sussurra perdas que nunca foram realmente processadas.
Os figurinos de Priscila Soares recebem 8/10. São vestimentas que aprisionam mais do que expressam. Roupas como cárceres emocionais, muito mais simbólicos do que decorativos.
A iluminação de César Pivetti merece 8/10. Ela não ilumina; flagra. Há um voyeurismo tenso na maneira como os recortes de luz revelam fendas emocionais, mais do que rostos ou ações.
Regiane Alves oferece uma interpretação comedida e densa, pontuada com 7.5/10. Sua personagem carrega o pragmatismo de quem quer vender a casa, mas também o desespero de quem quer apagar o passado.
Marina Elias, por sua vez, ganha 7/10. Sua personagem é uma presença suspensa, quase incorpórea — uma tentativa falha de conciliação que só escancara o abismo entre os irmãos.
O visagismo de Louise Helene completa o retrato da decadência familiar com 7/10. Há uma dor envelhecida e silenciada estampada no rosto de cada personagem.
PONTOS NEGATIVOS
O ritmo, por vezes, tende ao arrastado. A contemplação constante esbarra na lentidão, o que reduz sua potência em alguns trechos. Isso resulta em 5.5/10
VEREDITO FINAL
8.3/10 Nosso Irmão é uma obra de arte embalsamada em dor e silêncio. Não há consolo, apenas o desconforto elegante de quem encara os escombros daquilo que um dia se chamou família. O espetáculo não quer emocionar — quer corroer.
Por Paulo Sales

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