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Wicked: Parte 2 – A Fantasia que Só é Fantasia Porque o Brasil Já Tem os Direitos Autorais

Política como espetáculo e espetáculo como mecanismo de obediência

Wicked: Parte 2 – A Fantasia que Só é Fantasia Porque o Brasil Já Tem os Direitos Autorais


Wicked: Parte 2 é, essencialmente, um filme sobre como o poder define quem é monstro e quem é herói. Ou seja, é um documentário sobre política contemporânea com músicas maravilhosas e pessoas muito mais talentosas do que as que costumam aparecer em Brasília.


Jon M. Chu transforma Oz em um laboratório de manipulação estatal tão eficiente que daria inveja a qualquer marqueteiro. A narrativa oficial pinta Elphaba como inimiga pública número um, não porque ela seja perigosa, mas porque desafia um sistema que precisa de uma vilã para continuar funcionando.


É a velha tática: cria-se um inimigo, de preferência verde, para evitar que o povo perceba quem está realmente puxando as cordas.


Glinda, por outro lado, é a política moderada típica. Acredita piamente que boas intenções são suficientes para reformar estruturas seculares de injustiça. Acha que mudar o mundo é uma questão de marketing e diplomacia. E assim segue, tentando pacificar Oz com discursos fofos enquanto a máquina de propaganda estatal a engole viva e a transforma em símbolo, nunca em agente.


Ela se torna aquilo que o sistema quer que ela seja: um holograma sorridente.


Elphaba é tratada como terrorista pelos mesmos que lucram com o medo. E, claro, ninguém pergunta por que o governo de Oz tem tanto interesse em manter uma ordem social baseada em desigualdade, vigilância e desinformação. Basta Elphaba levantar um dedo para dizer “isso está errado” e pronto: manchete, pânico, cancelamento, trending topics, CPI da Bruxaria.


O filme escancara como a verdade passa a ser uma questão de quem tem o melhor palco e, no caso de Oz, o palco inclui números musicais, luzes dramáticas e uma população que acredita no que já chega mastigado. É política como espetáculo e espetáculo como mecanismo de obediência.


Jon M. Chu dirige tudo com a elegância de quem sabe que não está apenas contando uma fantasia, mas construindo uma parábola sobre Estados que criminalizam dissidências, sobre mídias que constroem versões oficiais dos fatos e sobre a facilidade com que se cria uma bruxa quando o que se quer esconder é a incompetência dos verdadeiros feiticeiros do poder.


No final, Wicked: Parte 2 é sobre duas mulheres que tentam sobreviver a um sistema político que não tolera nuances. Ou você é santa. Ou você é bruxa. E, convenhamos, ser santa só é permitido quando você segue o script.


Elphaba não segue. E é por isso que Oz precisa destruí-la.


Sai-se do cinema com a sensação inquietante de que o que torna a história tão poderosa não é a magia; é o fato de que reconhecemos cada mecanismo dela. Porque a verdadeira bruxaria política é esta: quando a fantasia parece menos absurda que o noticiário.


Por Paulo Sales


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